Estatísticas nacionais mostram que a violência sexual contra crianças e adolescentes continua elevada no Brasil. O serviço Disque Direitos Humanos (Disque 100) registrou 7.887 denúncias de estupro de pessoa vulnerável entre 1º de janeiro e 13 de maio deste ano. A média de notificações em 134 dias gira em torno de 60 casos por dia ou duas notificações por hora.
Neste sábado (18) é comemorado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data, instituída pelo Congresso Nacional em 2000, marca o falecimento do assassinato da menina Araceli Cabrera Sánchez Crespo, há 51 anos, em Vitória (ES). Após seis dias de desaparecimento, o corpo da criança foi encontrado com marcas de violência, desfigurado por ácido e com indícios de estupro. O crime, conhecido como “Caso Araceli”, continua impune.
Cinco décadas após o crime hediondo, os dados disponíveis em página do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) revelam números elevados, confirmados por indicadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que coleta informações das secretarias estaduais de Segurança Pública. Segundo o relatório da entidade, 58.820 casos de estupro de meninas e meninos foram notificados em delegacias de todo o país em 2022 – um aumento de 7% em relação ao ano anterior.
Em 2022, de cada quatro violações, três foram cometidas contra pessoas “incapazes de consentir, seja pela idade (menores de 14 anos), seja por qualquer outro motivo (deficiência, doença, etc.)”, descreve o relatório. Anuário Brasileiro de Segurança Públicapublicado em 2023 pela FBSP.
Ó Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que apenas 8,5% dos estupros no Brasil são denunciados à polícia. A projeção do instituto é que, de fato, sejam 822 mil casos anuais. Se fosse mantida a proporção de três quartos dos casos registrados em delegacias, o Brasil teria mais de 616 mil casos de pessoas vulneráveis por ano.
Mudança cultural
Segundo a psicóloga Juliana Martins, coordenadora institucional do FBSP, esses crimes são “o tipo de violência mais subnotificado” porque ocorrem em casa e envolvem familiares. Na sua opinião, enfrentar o problema “exige uma enorme mudança cultural de todos”. Ela avalia que a ação do poder público não é suficiente. “É um desafio enorme para o Estado, obviamente, enfrentar essa violência que ocorre no contexto doméstico.”
Em 2022, segundo o FBSP, seis em cada dez estupros de pessoas vulneráveis tiveram como vítimas crianças e adolescentes de 0 a 13 anos. Em 64,4% destes casos, o agressor era um membro da família (como pai, padrasto, avô, tio) e 21,6% eram conhecidos da vítima (como vizinhos e amigos), mas não eram parentes dela. Em mais de 70% dos casos, o crime ocorreu em casa; em 65% das ocorrências, ao longo do dia (das 6h às 18h).
Para Sérgio Luiz Ribeiro de Souza, desembargador da 4ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Rio de Janeiro, entre as dificuldades na atuação do Estado está o fato de os crimes “em regra, ocorrerem sem testemunhas” e de alguns abusos não deixam marcas físicas e não podem ser identificados no exame pericial. “Então esse tipo de prova material fica difícil.”
Véu do silêncio
“Esses crimes são cercados de preconceito e tabu. Estão cobertos pelo chamado véu do silêncio, onde as partes envolvidas concordam em favor de uma aparente harmonia familiar. Esse é um dos motivos pelos quais nem sequer são notificados e uma das dificuldades para identificar o número exato de casos”, acrescenta a procuradora Camila Costa Britto, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Ela alerta que é comum que “as crianças sejam vistas como propriedade, e não como seres humanos, pelos abusadores”. Ela lembra que as crianças nunca foram propriedade de ninguém, são seres em desenvolvimento, pessoas em formação, detentoras de direitos, principalmente à vida, à dignidade, ao lazer, à moradia e à saúde.”
A assistente social Gezyka Silveira, especialista em proteção e desenvolvimento infantil da organização não governamental (ONG) Plan International Brasil, considera que crimes de abuso sexual podem ocorrer com crianças e adolescentes de diferentes estratos sociais, mas há situações que tornam essas pessoas mais suscetível.
“As causas dessa violência são diversas, mas podemos citar entre as mais recorrentes situações de vulnerabilidade socioeconômica, a desigualdade social, a discriminação pelos próprios marcadores sociais, como raça, gênero, etnia e outros, tanto que meninas e mulheres negras as mulheres são as que mais sofrem violência”, afirma Gezyka.
O anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública informa que, em 2022, 56,8% das vítimas de estupro (adultos e vulneráveis) eram negras ou pardas; 42,3% das vítimas eram brancas; 0,5% indígena; e 0,4% amarelo.
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