Até então considerado para substituir o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, o ex-presidente Ebrahim Raisi vinha acumulando poder na república islâmica xiita ao longo de seu mandato, marcado pelo progresso econômico, pela repressão aos protestos e por uma política externa que aumentou a influência do país persa. influência global.
Raisi morreu neste domingo (19) aos 63 anos, depois que o helicóptero em que viajava caiu no noroeste do Irã. O ministro iraniano das Relações Exteriores, Hossein Amirabdollahian, e outras sete pessoas também estavam na aeronave.
Para compreender o legado do presidente iraniano, o Agência Brasil entrevistou dois especialistas sobre o Irão e o Médio Oriente, que descreveram Ebrahim Raisi como um presidente de grande importância que projectou a influência do Irão em todo o mundo.
Eleito em 2021 para um mandato de quatro anos, Raisi havia disputado sua primeira eleição para presidente em 2017. Com sua morte, o país deve convocar eleições em 50 dias, a partir de segunda-feira (20). O líder supremo do Irã nomeou o vice-presidente Mohammad Mokhber como chefe de estado interino.
Para o jornalista Bruno Lima Rocha, doutor em ciências políticas e professor de relações internacionais, a principal marca do mandato de Raisi foi o desenvolvimento econômico que alcançou para o país, que enfrenta há 45 anos um bloqueio econômico liderado pelos Estados Unidos.
Rocha citou como conquistas de Raisi o acordo firmado com a Índia para uso comum do porto de Chabahar, no Golfo de Omã; a construção de reservatórios de água em parceria com o Azerbaijão; a entrada do Irã no Brics, grupo de países que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul; a retomada das relações diplomáticas com a Arábia Saudita, rival regional histórico de Teerã; além do acordo para aumentar o tráfego aéreo com o Catar, que é o principal ponto de ligação aérea do Oriente Médio.
“Seja na triangulação com a Rússia e a China, através da Organização de Cooperação de Xangai, ou nas relações diretas entre o Irão e as repúblicas da Ásia Central, todas as semanas havia um evento, todas as semanas havia algum memorando de protocolo de entendimento para novos negócios, incluindo aumento da presença do Irão em África”, destacou o também pós-doutoramento em economia política internacional.
Com cerca de 88 milhões de habitantes, o Irã é um pouco maior que o estado do Amazonas, sendo um dos maiores produtores de petróleo do mundo, além de possuir uma indústria petroquímica, naval, aeroespacial e cibernética desenvolvida, segundo Rocha.
Para o professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) Bernardo Kocher, o presidente Ebrahim Raisi deu ao Irã um perfil sólido no Oriente Médio e perante a comunidade internacional. “Ele fez grandes avanços na condução da política externa iraniana. Goste ou não, o Irã se estabeleceu com muita energia no Oriente Médio”, afirmou o professor, acrescentando que a decisão de atacar Israel foi sua.
“Foi um ataque muito bem sucedido porque não atingiu ninguém, nem uma única pessoa. Ele evitou a guerra. É isso que penso que marca a sua política externa. Ele externalizou o poder, mas não iniciou uma guerra”, argumentou Bernardo Kocher.
Eixo de Resistência
Outro papel de Raisi destacado pelo professor Bruno Lima Rocha na política externa do Irã foi aumentar o apoio aos chamados Eixo da Resistência, que são os países ou grupos do Oriente Médio que lutam contra a presença e influência americana e ocidental na região. . Entre eles estão o Hamas, da Faixa de Gaza, o Hezbollah, do Líbano, os Houthi, do Iémen, e o governo da Síria.
“Se não fosse o Irão, não é como se não houvesse mais palestinos, não sobraria nada. Não havia mais Síria, nem Líbano, nem Iraque. O Irão é o único país que fornece financiamento regular para apoiar a resistência árabe e islâmica, seja xiita ou não xiita, contra a invasão ocidental na região, incluindo Israel”, comentou.
O professor da UFF, Bernardo Kocher, acredita que a política iraniana de apoio a grupos armados em outras nações não deve terminar com uma mudança de presidente, pois tem rendido bons resultados para o país. Segundo o professor, esta é uma política de estado consolidada, e não de governo.
“É uma política de defesa do Estado iraniano. Eles fazem isso para tentar desgastar os inimigos no seu acampamento, no seu território, antes que ganhem forças para atacar o território iraniano”, destacou Bernardo Kocher.
Repressão aos protestos
O mandato do Presidente Ebrahim Raisi também foi marcado pela repressão aos protestos promovidos principalmente por jovens. Os maiores distúrbios foram desencadeados pela morte de Mahsa Amini, de 22 anos, em setembro de 2022. Ela estava sob custódia policial acusada de usar “roupas inadequadas”.
O professor Bernardo Kocher disse que o presidente Raisi adotou uma linha dura na repressão aos protestos. “Há um nível de repressão, da polícia aduaneira, que no fundo é uma polícia política. Ele diz que é em nome dos costumes, mas no fundo também é uma repressão ideológica”, destacou.
O professor Bruno Lima Rocha avaliou que o presidente Raisi deu maior atenção ao protesto civil no campo do comportamento juvenil com o objetivo de evitar as chamadas revoluções coloridas, movimentos de protesto que seriam manipulados do exterior.
“Há um sério problema de adequação da república criada em 1979 aos desejos da juventude urbana moderna. Isso está acontecendo, isso não é uma invenção”, comentou, acrescentando que o objetivo da repressão do governo Raisi seria inibir “a possibilidade de uma chamada revolução colorida ou de uma insurreição manipulada via internet”. um certo reforço das leis morais”, avaliou Rocha.
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