A criação de uma comissão externa da Câmara dos Deputados para investigar a crise humanitária na Terra Yanomami provocou indignação entre os povos indígenas. De acordo com a nota de repúdio divulgada no início da semana por diversas entidades que representam os povos da região, os deputados originalmente nomeados são contra a demarcação de terras e defendem agendas que atacam os direitos das populações indígenas. Diante da mobilização, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), decidiu, nesta quarta-feira (22), incluir Célia Xakriabá (PSOL) como integrante da comissão.
Com a nova nomeação, serão 16 membros. “Fui o primeiro parlamentar a visitar o território em 2023 para acompanhar a gravíssima crise, causada pelo aumento de 54% do garimpo ilegal e pelo genocídio incentivado pelo governo [Jair] Bolsonaro. Seria, no mínimo, ilógico para mim não fazer parte da comissão”, afirmou Célia Xacriabá nas redes sociais.
A comissão externa foi criada por meio de ato da presidência da Câmara dos Deputados, assinado por Lira no dia 13 de maio. O documento é sucinto. Apenas menciona que o objetivo é acompanhar as autoridades competentes na investigação e apuração da crise humanitária Yanomami.
Sob a coordenação do deputado Coronel Fernanda (PL), a comissão realizará sua primeira reunião no dia 5 de julho, quando deverá ser aprovado o plano de trabalho. Além da recém-nomeada Célia Xacriabá, outra indígena se juntará aos trabalhos, Silvia Waiapi (PL). Foi secretária de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, durante o governo de Jair Bolsonaro.
“Manifestamos nosso repúdio e indignação por mais uma ação truculenta da Câmara dos Deputados que, longe de manifestar preocupação e compromisso com nosso povo, pretende utilizar a dor e a morte do povo Yanomami e Ye’kwana para objetivos simulados de disputas políticas e defesa. da mineração e da mineração em territórios indígenas”, diz o texto divulgado nesta segunda-feira (20) por quatro entidades, Associação Yanomami Hutukara (HAY), Associação Yanomami Urihi (URIHI), Associação Yanomami Parawami (Parawami) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Sedume). Outras 78 organizações sociais assinaram a nota.
Todos os 15 parlamentares inicialmente designados votaram a favor da tese do Marco Temporal, segundo a qual os povos indígenas só teriam direito à demarcação das terras por eles ocupadas na data da promulgação da Constituição de 1988. O PL, mesmo partido do ex-presidente da República Jair Bolsonaro, tem sete membros. Os demais são do União Brasil, MDB e Republicanos.
Embora considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro de 2023, a tese do Marco Temporal foi aprovada dias depois no Congresso. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou a medida, mas o veto foi posteriormente derrubado pelos parlamentares e a Lei Federal 14.701/2023 foi promulgada. Os questionamentos sobre a constitucionalidade da lei devem obrigar uma nova discussão no STF.
As entidades signatárias da nota avaliam que a criação da comissão “só pode ser entendida como uma zombaria e uma afronta ao sofrimento dos povos indígenas”. Alegam também que nenhum dos 15 parlamentares inicialmente nomeados alguma vez se mobilizou em apoio às populações indígenas.
A Terra Yanomami ocupa mais de 9 milhões de hectares e se estende pelos estados de Roraima e Amazonas. É a maior reserva indígena do país. Os resultados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que mais de 27 mil indígenas vivem nesta área.
Em janeiro do ano passado, as repercussões da crise humanitária vivida nestas aldeias causaram comoção nacional. Segundo dados do Ministério dos Povos Indígenas, só em 2022, 99 crianças Yanomami menores de 5 anos morreram, na maioria dos casos por desnutrição, pneumonia e diarreia.
Tendo recentemente tomado posse, o governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou uma série de ações governamentais, incluindo o combate à mineração ilegal, identificada como a causa central da situação, juntamente com a inação do Estado. Porém, mais de um ano depois, atividades clandestinas continuam ocorrendo no território.
Na nota, as entidades solicitaram que o Poder Judiciário declare a inconstitucionalidade da Lei Federal 14.701/2023. Exigem também que o governo intensifique as ações contra a mineração e fortaleça os cuidados de saúde para a população da região. Por fim, exigem que o Poder Legislativo respeite os territórios Yanomami e cesse “sua ofensiva imoral contra os direitos dos povos indígenas”.
Procurado por Agência Brasilnem a presidência da Câmara dos Deputados nem o gabinete do deputado Arthur Lira se manifestaram.
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