A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) instituiu, nesta quinta-feira (23), uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar descumprimentos de contratos de planos de saúde para pessoas com deficiência. A CPI foi solicitada pelo deputado Fred Pacheco (PMN) em março deste ano e logo obteve as assinaturas necessárias de acordo com o regimento interno da Alerj.
Publicado hoje em edição extra da Diário Oficial do Estado, a implantação da CPI foi resultado de intensa campanha realizada pelo parlamentar, que recebeu denúncias de mães e pais de pessoas com deficiência (PCD). Entre as diversas manifestações deste período, houve uma delegação que se dirigiu ao Tribunal de Justiça para exigir o rápido cumprimento das decisões judiciais favoráveis aos PCD.
“Essa é uma vitória do povo carioca, mas é principalmente uma vitória das mães e pais dos PCDs, que lutam com tanta bravura. Desde o ano passado que tentamos encontrar uma solução para que os tratamentos não sejam interrompidos. Não deu certo, então vamos montar a CPI e resolver isso”, disse Pacheco, que é cantor e compositor cristão e vocalista da banda DOM.
Segundo a fisioterapeuta Fabiane Alexandre Simão, 45 anos, que preside a Associação Não Direito a Menos, a criação da CPI será um alívio para mães e pais de pessoas com deficiência. Ela é mãe de Daniel, de 9 anos, que sofre de paralisia cerebral e transtorno do espectro do autismo.
“A CPI dos Planos de Saúde é de extrema importância, pois vai tirar a cortina que esconde o que está por trás das medidas que as operadoras estão colocando em prática. Os planos estão negando o direito à saúde e, consequentemente, à vida dos nossos filhos, e os deixando em risco de morte, sem possibilidade de tratamento médico”, afirmou a fisioterapeuta.
No dia 15 deste mês, um grupo de mães protestou, em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo do estado, contra o cancelamento unilateral do plano de saúde Amil para pessoas com transtorno do espectro do autismo. Segundo os manifestantes, isso vem acontecendo em outros estados e envolve outras seguradoras de saúde.
Fabiane Simão, que participou neste evento, disse que o problema já está a afectar pessoas em atendimento domiciliar (atendimento médico domiciliar), que dependem de suporte total de vida, de respirador. “E eles querem cancelar esses planos, querem retirar o atendimento domiciliar”, afirmou.
O especialista em direito do consumidor e saúde e membro da comissão de Direito Civil da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Campinas, Stefano Ribeiro, disse que o cancelamento unilateral, em casos de tratamento de saúde, como ocorre com pessoas autistas, é ilegal, e o usuário pode exigir seus direitos.
“O beneficiário pode sim recorrer à Justiça, com a obrigação de efetuar o pagamento do plano, para que esse contrato seja mantido, para que não seja rescindido até a conclusão do tratamento. Isso também sem prejuízo de solicitar indenização por danos morais, em função dos transtornos e constrangimentos que esse beneficiário foi obrigado a suportar”, informou.
RESPOSTA
Em junho de 2022, a Agência Nacional de Saúde (ANS) ampliou as regras de cobertura para casos de transtornos globais do desenvolvimento, como o transtorno do espectro do autismo. A decisão foi tomada em reunião da diretoria colegiada do órgão. Portanto, é obrigatória a cobertura de qualquer método ou técnica recomendado pelo médico para o tratamento de um paciente que apresente um dos transtornos invasivos do desenvolvimento.
Os transtornos invasivos do desenvolvimento são caracterizados por um conjunto de condições que geram dificuldades de comunicação e comportamentais, prejudicando a interação dos pacientes com outras pessoas e o enfrentamento das situações cotidianas. Eles incluem transtorno do espectro do autismo/Asperger, transtorno desintegrativo da infância (psicose), síndrome de Rett e transtorno de hipercinesia associado a retardo mental e movimentos estereotipados, entre outros.
O regulamento aprovado também ajustou o Anexo II da Lista para que sessões ilimitadas com fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas cubram todos os distúrbios globais do desenvolvimento.
Segundo o diretor-presidente da ANS, Paulo Rebello, a agência já discutia terapias para tratamento do espectro do autismo em um grupo de trabalho criado em 2021. “Com base nessas discussões e considerando o princípio da igualdade, decidimos estabelecer cobertura obrigatória de diferentes métodos ou terapias não apenas para pacientes com transtorno do espectro do autismo, mas para usuários de planos de saúde com diagnóstico de algum transtorno classificado como transtorno invasivo do desenvolvimento”, disse.
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