O anúncio de três países europeus – Espanha, Irlanda e Noruega – de que reconhecerão um Estado palestino na próxima terça-feira (28) aumenta o isolamento internacional de Israel e dos Estados Unidos e, apesar de ser um gesto simbólico, tem efeitos práticos, no avaliação de especialistas em relações internacionais consultados pelo Agência Brasil.
A grande maioria dos países da América Latina, África e Ásia já reconhece o direito a um Estado para os palestinianos. O Brasil fez o reconhecimento em 2010. No total, mais de 140 países dos 193 da Organização das Nações Unidas (ONU) já reconheceram o direito dos palestinos a um Estado.
Contudo, entre os países da Europa Ocidental, apenas a Suécia e a Islândia declararam este reconhecimento. Além disso, nenhum dos países do G7 reconhece este direito palestiniano. O G7 é o grupo dos sete países mais industrializados do mundo: França, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Itália, Alemanha e Japão. A Austrália e a Coreia do Sul também são países que não reconhecem o Estado Palestiniano.
O professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Dallari avalia que a adesão desses países europeus é reflexo dos questionamentos da comunidade internacional sobre a atuação de Israel na Faixa de Gaza, revertendo o apoio que Tel Aviv conquistou logo após o ataque do Hamas, em 7 de outubro.
“Esse isolamento de Israel levou a comunidade internacional a questionar essa conduta, e a sociedade civil internacional começou a reagir, muitas manifestações de estudantes ao redor do mundo, artistas, organizações sociais, e isso teve impacto nos governos”, destacou o professor.
Karina Stange Caladrin, assessora do Instituto Brasil-Israel, pesquisadora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), analisou que as decisões dos países europeus revelam que a narrativa do governo israelense não é convincente.
“A pressão aumentou sobre o governo israelita, apesar da narrativa generalizada de que Israel está apenas a defender-se, que tem justiça moral nas suas acções e que o objectivo único e exclusivo é o extermínio do Hamas. Essa narrativa não está convencendo o público externo e interno”, pontuou.
Para o professor de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Educação, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) Robson Valdez, o isolamento de Israel também se reflete no isolamento de seu maior aliado.
“Como temos outros países que, em teoria, desafiam esta liderança dos Estados Unidos e decidem, por si próprios, reconhecer o Estado da Palestina, isso mostra uma fraqueza dos Estados Unidos na sua capacidade de liderança”, disse Valdez.
O professor do PDI acrescentou que as recentes decisões do procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) de solicitar a prisão do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu e do Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) de exigir o fim das operações em Gaza, reflectem este declínio. no poder relativo dos Estados Unidos no mundo.
Efeitos práticos
Valdez avalia que, embora a decisão dos países europeus seja simbólica, tem efeitos práticos. “Isso fortalece a exigência dos palestinos por um Estado soberano e enfraquece a posição dos Estados Unidos e dos seus aliados, deixando-os numa situação muito desconfortável face ao sistema internacional”, disse ela.
A investigadora Karina Caladrin argumentou que as decisões de Espanha, Noruega e Irlanda são simbólicas, com pouco efeito prático, uma vez que “o governo israelita, e Netanyahu em particular, têm pouca preocupação com a posição de Israel na cena internacional, o seu principal interesse é individual”.
Ainda assim, Caladrin entende que a decisão dos países europeus terá algumas consequências. “Israel está cada vez mais isolado e terá de suportar as consequências negativas do seu isolamento”, disse ele.
O professor da USP Pedro Dallari observa que tais decisões influenciam a construção da solução de dois Estados, um israelense e outro palestino, mas que esses efeitos não são imediatos. “É claro, inclusive para um segmento crescente da sociedade israelita, que a forma como Netanyahu está a lidar com esta situação é extremamente prejudicial para o Estado de Israel.”
“Não sei quanto tempo vai demorar, mas com a provável queda do governo de Netanyahu, poderá prevalecer em Israel um governo com o apoio da sociedade que, percebendo a inviabilidade da situação atual, evolua no sentido de tornar a existência de dois Estados fórmula viável”, entende.
Reconhecimento
O reconhecimento da Palestina como Estado começou em 1988, quando os líderes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) declararam a independência no exílio na Argélia. Num primeiro momento, Cuba, China, Argélia e outros países reconheceram rapidamente o direito à autodeterminação do povo palestiniano.
Nos anos 2000 e 2001, após a 2ª intifada – uma grande revolta dos palestinos contra a ocupação israelense de seus territórios – aumentou a adesão dos países ao reconhecimento da independência e do Estado da Palestina, conforme explica o professor do PDI Robson Valdez.
O especialista entende que o não reconhecimento da Palestina pelos países mais poderosos, como os do G7, está relacionado com a posição que os Estados Unidos ocupam no mundo, o que dificulta que os seus principais aliados tomem decisões sem o apoio de Washington. atenção.
“As negociações bilaterais entre os Estados Unidos e os seus aliados podem ter um elemento de coerção, ou persuasão, que os impede de assumir uma posição abertamente favorável a um Estado palestiniano livre, autónomo e independente. Os intrincados interesses dos Estados Unidos com os seus aliados podem ser a principal fonte da dificuldade destes aliados em se posicionarem a favor da Palestina”, argumentou Valdez.
Ao mesmo tempo que defendem a solução de dois Estados, os Estados Unidos argumentam que esta solução deve ser construída através de um acordo entre Israel e a Autoridade Palestiniana. O governo israelense negou esta solução. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu argumentou que a autorização para criar um Estado palestiniano seria uma recompensa para o 7 de Outubro e colocaria em risco a segurança de Israel.
Para que a Palestina seja oficialmente reconhecida como Estado, a medida deve ser aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, medida que foi vetada pelos Estados Unidos.
Desde 2012, a Autoridade Palestiniana atua como “observadora” nas Nações Unidas, o que não lhe confere o direito de voto.
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