Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – A disputa pela taxa Ptax no final do mês ganhou força até o início da tarde desta sexta-feira, com investidores com posições compradas impulsionando os preços, o que abriu espaço para mais um dia de forte alta da moeda americana frente ao real, ainda que no exterior a moeda tenha caído após a divulgação dos dados de inflação acomodados nos EUA.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a 5,2510 reais na venda, alta de 0,78%. Este é o maior valor de fechamento desde 16 de abril, quando a moeda estava cotada a 5,2686 reais. Na semana, a moeda norte-americana acumulou alta de 1,60%. Em maio, o aumento acumulado foi de 1,12%.
Às 17h22, o contrato futuro de dólar para julho – que nesta sexta se tornou o mais líquido do Brasil – subia 0,78%, a 5,2615 reais.
Como na quinta-feira o mercado brasileiro permanecia fechado devido ao feriado de Corpus Christi, nesta sexta os preços já abriram, ajustando-se às notícias da véspera nos EUA – em particular, a revisão em baixa do crescimento do Produto Interno Bruto ( PIB norte-americano no primeiro trimestre.
Esses dados alimentaram as expectativas de que o Federal Reserve poderia reduzir as taxas de juros em 2024, o que pesou sobre o dólar. Às 9h04 desta sexta-feira, logo após a abertura, a moeda norte-americana à vista atingiu a cotação mínima de 5,1933 reais (-0,33%).
Os números divulgados logo depois também reforçaram a visão de que o Fed terá espaço para cortar as taxas de juros. Amplamente observado pelo banco central dos EUA, o índice de inflação PCE subiu 0,3% em abril, igualando o valor de março. Na base anual, o indicador cresceu 2,7%, mesmo percentual de março. Os resultados tanto do mês quanto do ano ficaram em linha com as projeções dos economistas consultados pela Reuters.
O núcleo do PCE subiu 0,2% em abril, abaixo dos 0,3% esperados pelos economistas.
Os números do PCE fizeram com que o dólar aumentasse as perdas frente a diversas moedas no exterior, mas no Brasil a disputa pela formação da Ptax começou a dar o tom dos negócios.
Taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado spot, a Ptax serve de referência para liquidação de contratos futuros. Ao final de cada mês, os agentes financeiros costumam tentar direcioná-lo para níveis mais convenientes para suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta dos preços) ou vendidas em dólar (no sentido de queda).
Assim, por volta das 10h, 11h e 12h – horários em que o BC realiza cobranças para cálculo do Ptax – o dólar à vista renovou suas máximas do dia, num claro movimento de pressão dos longos. Às 12h, no pico da sessão, o dólar à vista era cotado a 5,2592 reais (+0,94%), ainda que no exterior o viés da moeda norte-americana fosse de baixa.
Para Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos, os dados da China contribuíram para a pressão exercida pelos longos na formação da Ptax.
Inesperadamente, o Índice de Gestores de Compras (PMI) oficial do sector industrial chinês caiu para 49,5 em Maio, face a 50,4 em Abril e abaixo da marca de 50 que separa o crescimento da contracção. Os analistas esperavam um PMI de 50,4.
Nesse cenário, a cotação de setembro voltou a cair na Dalian Commodity Exchange (DCE) da China, acumulando queda de 4,7% na semana.
“Os dados da China vieram muito mais fracos do que o esperado, o que tem grande impacto nos preços das commodities, com muito efeito no Brasil”, comentou Massote. “Hoje (sexta-feira) o real está ganhando mais que os demais porque as commodities são muito importantes para a nossa economia. No final, a Ptax trouxe volatilidade e a China deu um rumo ao dólar”, avaliou.
Com a Ptax formada no início da tarde (5,2416 reais à venda), o dólar passou a oscilar com mais liberdade no Brasil, mas como sexta-feira foi uma sessão espremida entre o feriado e o fim de semana, a liquidez também diminuiu.
No exterior, o dólar continuou em queda frente à maioria das outras moedas, na esteira do PCE.
Às 17h21, o índice – que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis moedas – caía 0,15%, para 104,610.
Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional oferecidos para rolagem dos vencimentos de agosto.
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