Professores da Universidade de São Paulo (USP) aguardam investigação sobre a ação brutal sofrida por estudantes no Largo de São Francisco, no dia 25 de maio, por policiais militares durante protesto contra o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ó Estadão apurou que foi a primeira vez que PMs entraram no prédio histórico, na região da Sé, centro de São Paulo, para uma ação desse tipo.
A apuração dos fatos acontece pelo 1º Distrito Policial (DP) da Catedral. “Não há informações sobre a falta de investigação por parte da Polícia Civil. Paralelamente ao trabalho da Polícia Judiciária, as imagens estão sendo analisadas pela Polícia Militar. “, afirmou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo em nota.
Segundo nota da USP, pelo menos um estudante foi agredido após ter a cabeça agarrada por policiais. Na ocasião, representantes dos Três Poderes participaram da posse do novo procurador-geral do Ministério Público de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa. Os estudantes se manifestaram sobre diversos assuntos, como gratuidade de passes estudantis, ampliação de câmeras corporais para policiais e contra a aprovação do projeto que cria escolas cívico-militares em São Paulo.
Em vídeo divulgado pelo Centro Acadêmico XI de Agosto, policiais aparecem arrancando uma faixa dos manifestantes, no que seria o início da confusão. Então, um policial começa a sacar uma arma enquanto um estudante tem a cabeça agarrada por outro policial. A agressão só cessa quando um advogado intervém. Nesse momento, um policial militar ri.
Segundo Celso Fernandes Campilongo, diretor da Faculdade de Direito, e Ana Elisa Liberatore Bechara, vice-diretora, disseram que os professores tinham que se colocar entre os PMs e os alunos.
“Ainda antes do início do evento, fomos informados sobre atos de violência policial contra estudantes dentro do colégio. Fomos imediatamente ao local do incidente e conversamos com os estudantes. Além disso, conversamos com o responsável pelos serviços de segurança e dissemos que a violência era inaceitável e que, dentro do colégio, o protesto estudantil não poderia ser sujeito a censura ou repressão. Durante toda a cerimónia e protesto estudantil, permanecemos posicionados entre os estudantes e a polícia, perto do local anteriormente reservado pela universidade. MP-SP O objetivo era eliminar os riscos de abusos e tensões”, afirmaram em nota.
Continuam dizendo que, na verdade, pelo menos um aluno foi agredido. “Com efeito, há imagens, amplamente divulgadas nas redes sociais, em que pelo menos um aluno da Faculdade de Direito é agredido pela Polícia Militar, no interior da Escola”, referiram.
Jornalista, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e colunista do EstadãoEugênio Bucci lembrou nesta quinta-feira, 30, que nem em 1984, quando o Brasil estava sob o controle ditatorial dos militares, houve uma invasão do Largo São Francisco.
Bucci presidiu o Centro Acadêmico XI de Agosto quando as Diretas Já sofreram derrota na Câmara dos Deputados, em 1984. Os estudantes, Bucci foi um deles, decidiram fazer uma manifestação no dia seguinte à votação. A Polícia Militar então cercou o colégio e agrediu os universitários.
No dia seguinte, o então secretário de Segurança Pública de São Paulo, Michel Temer, ex-aluno da faculdade, foi ao prédio do Largo São Francisco pedir desculpas pelo ocorrido. “O governador era Franco Montoro. Eu não tinha identidade partidária com nenhum deles, mas reconheci o valor do gesto contido naquela visita. Foi mais uma mensagem: em tempos de ditadura, o governo de São Paulo procurou firmar seu compromisso com democracia”, disse Bucci, em trecho de sua coluna. “Em tempos de democracia, o governo paulista corteja o autoritarismo.”
Uma professora lembrou Estadão de dois episódios anteriores que indicam como a situação saiu do controle na última semana, diferente dos acontecimentos normais na faculdade. Em uma delas, quando Lula participou do primeiro ato após sair da prisão, houve um acordo com a Secretaria de Segurança Pública de que ali estariam policiais, mas à paisana, apenas para garantir a segurança dos presentes. Em outra situação, quando houve solicitação de formatura de cadetes da Academia do Barro Branco de São Francisco, o espaço foi cedido apenas com a condição de nenhum oficial entrar armado no local. “Um desastre”, disse ele sobre a situação atual.
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