O ex-personal trainer da família de Djidja Cardoso, Hatus Silveira, revelou que a ex-senhora do Boi Garantido aplicou cetamina nele sem o seu consentimento, durante uma visita à casa onde morava.
Nesta terça-feira (4), a pessoa prestou depoimento à polícia sobre o relacionamento que mantinha com a família Cardoso. Segundo o g1, Hatus disse que em janeiro foi convidado pela família para ir até a casa deles, pois queriam voltar a treinar para recuperar a condição física.
Ao chegar ao local, a equipe informou que a mãe de Djidja, Cleusimar Cardoso, lhe ofereceu cetamina, o que ele negou. “Naquele dia que fui lá, tinha sete pessoas sentadas na sala, com uma TV dizendo ‘Cartas de Cristo’. Quando passei, ‘Sra. Cleu’ falou ‘você tem que usar isso, você tem que sair da Matrix’. Eu disse que conhecia esse tipo de droga e que não ia usar.“, disse Hattus.
Disse que após a oferta saiu da sala e dirigiu-se à cozinha, onde estavam presentes Ademar Cardoso, irmão de Djidja, e o seu companheiro, visivelmente debilitado. Enquanto conversava com Ademar na cozinha, Hatus revelou que Djidja veio pelas suas costas e aplicou cetamina no seu braço sem o seu consentimento. “Quando eu estava conversando com o Ademar, fiquei de costas e eles vieram com a agulha e aplicaram em mim. Muito rápido. Eu disse ‘Não faça isso’. Fiquei tonto por cerca de 15 minutos“, lembrei.
No mesmo dia, a família insistiu no treino com o personal trainer, que afirmou não conseguir fazer os exercícios devido aos efeitos da droga. Após o episódio, ele disse que decidiu se afastar da família. “Quando vi todo mundo naquela situação, não conseguiam treinar, não conseguiam nem agachar. Eu disse ‘tenho que sair daqui’. Todo mundo está drogado, já está se prejudicando, vou sair daqui“, disse.
Operação
Após a morte da ex-mocinha, a Polícia Civil deflagrou a Operação Mandrágora, que investiga a seita “Pai, Mãe, Vida”, supostamente liderada por sua família. Segundo os documentos, eles obrigaram os participantes a usar cetamina em rituais. A droga é usada como anestésico em procedimentos cirúrgicos, mas também causa efeitos alucinógenos. É utilizado principalmente para realizar cirurgias em animais de grande porte.
Segundo a corporação, as investigações sobre a existência da seita e a prática de crimes começaram há 40 dias, antes da morte de Djidja. Na época, descobriu-se que o grupo obtinha cetamina em uma clínica veterinária, sem qualquer tipo de prescrição ou controle, e distribuía entre funcionários da rede de salões de beleza.
A defesa da família Cardoso, porém, alegou que não houve prática de grupo religioso e que se trataram apenas de discursos proferidos enquanto os suspeitos estavam sob efeito da droga. “Não existia ritual e onde funcionários e amigos eram forçados ou coagidos a usar a droga. Isso não existia. Ofereceram-no sob a influência de drogas, com esse argumento, com essa reivindicação da transcendência da evolução espiritual”ele declarou.
A causa da morte de Djidja
De acordo com Segundo boletim preliminar divulgado pelo Instituto Médico Legal (IML), nesta segunda-feira (3), Djidja Cardoso faleceu em decorrência de edema cerebral, que afetou o funcionamento do coração e da respiração. A suspeita é que o uso excessivo de cetamina culminou na complicação, já que a família da jovem tinha a droga aliada aos rituais da seita religiosa que ela liderava.
O documento aponta “depressão dos centros cardiorrespiratórios centrais bulbares, congestão e edema cerebral de causa indeterminada”, que é uma condição caracterizada por inchaço no cérebro. Porém, o IML não explicou o que poderia ter desencadeado o problema. Os resultados finais da necropsia e do exame toxicológico deverão ser divulgados até o final deste mês.
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