Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – Em uma sessão volátil influenciada por diversos fatores, as taxas DI terminaram a terça-feira em alta em meio ao desconforto dos investidores com o cenário fiscal no Brasil após a apresentação de novas propostas legislativas pelo governo, ainda que no exterior o dia foi um de queda constante nos rendimentos do Tesouro.
No final da tarde, a taxa DI (Depósito Interbancário) de janeiro de 2025 – que reflete a política monetária no curtíssimo prazo – estava em 10,41%, ante 10,394% do reajuste anterior.
A taxa DI para janeiro de 2026 foi de 10,845%, ante 10,807% do reajuste anterior, enquanto a taxa de janeiro de 2027 foi de 11,2%, ante 11,164%. A taxa para janeiro de 2028 foi de 11,485%, ante 11,458%, e o contrato para janeiro de 2031 foi de 11,85%, ante 11,833%.
No início do dia, as taxas futuras oscilavam em território negativo, em linha com a queda dos rendimentos do Tesouro e após a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no primeiro trimestre do ano, que cresceu 0,8% em relação a três meses atrás. anteriores. A leitura correspondeu às expectativas de uma pesquisa da Reuters com economistas.
Um dos destaques foi a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – medida de investimento –, que aumentou 4,1% no primeiro trimestre, após crescimento de apenas 0,5% no período anterior.
Nesse cenário, a taxa de vencimento de janeiro de 2027 – uma das mais líquidas – atingiu o mínimo de 11,100% às 11h01, queda de 6 pontos base em relação ao ajuste do dia anterior.
Porém, no final da manhã, as taxas DI começaram a ganhar força no Brasil, migrando para território positivo no início da tarde e renovando máximas em sentido oposto no exterior, onde os rendimentos continuaram caindo de forma constante.
O aumento das taxas DI ocorreu paralelamente ao anúncio do governo de novas medidas para a área fiscal e do segundo projeto de regulamentação da reforma tributária.
O governo emitiu uma medida provisória para limitar o sistema de crédito Pis/Cofins, prevendo que a iniciativa aumentará as receitas do governo em 29,2 bilhões de reais em 2024. Do total, cerca de 17,5 bilhões de reais virão de uma limitação nas compensações de crédito Pis/Cofins. Outros 11,7 bilhões de reais serão resultado de restrição aos créditos presumidos de Pis/Cofins.
A medida busca compensar a perda de receita gerada pela manutenção da desoneração da folha de pagamento em 17 setores da economia e pequenos municípios. O benefício tem custo estimado em 26,3 bilhões de reais este ano – valor inferior ao impacto previsto pela MP.
À tarde, o governo enviou ao Congresso o segundo projeto de lei complementar para regulamentar a reforma tributária sobre o consumo. O projeto também regulamenta o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCMD), imposto estadual que incide sobre heranças e doações. Porém, por decisão do governo, o texto não trata da cobrança desse imposto sobre heranças oriundas de investimentos em previdência privada – algo que foi discutido na imprensa ao longo da semana.
Em entrevista à imprensa, o secretário extraordinário de Reforma Tributária da Fazenda, Bernard Appy, afirmou que a não inclusão da cobrança do ITCMD sobre as heranças provenientes de investimentos em previdência privada foi uma “decisão do governo”. Ele não deu mais explicações.
Profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que as medidas anunciadas pelo governo geraram desconforto no mercado, sendo um dos pontos de desconforto justamente a questão do ITCMD e, principalmente, a falta de explicações sobre o motivo da retirada da proposta do texto. introduzido. A preocupação dos investidores é que uma possível tributação possa retirar alguma da atractividade dos fundos de pensões privados.
“Essa questão previdenciária é mais sensível do que pode parecer. Na verdade, os fundos de pensão são grandes financiadores da dívida pública, porque têm metas atuariais a cumprir e, portanto, são compradores de títulos públicos de longo prazo, principalmente NTN-B”, comentou Lais Costa, analista da Empiricus Research.
“Se você gera um fluxo de vendas de fundos de pensão, você reduz o poder dessas instituições de comprar esses títulos ou até mesmo de gerar um fluxo de vendas desses NTNBs. Agora imagine quanto será o custo do governo nesse cenário. Já temos uma taxa de IPCA+6%, o que já é insustentável no longo prazo”, acrescentou Costa.
Segundo Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, os ruídos envolvendo a área fiscal realmente impulsionaram a curva brasileira nesta terça-feira.
“Há muitas notícias sobre tributação sucessória, que depois foi desmentida, há muito ruído em torno dos impostos e da política fiscal. Então, como as commodities estão caindo hoje, isso acaba pesando no câmbio, que testa 5,29 reais. E acaba pesando na curva de juros também”, avaliou.
O preço spot se aproximou de 5,30 reais durante a tarde, em meio à queda de commodities importantes para o Brasil, como , e .
Nesse contexto, a taxa DI de janeiro de 2027 atingiu pico de 11,230% às 14h10, alta de 7 pontos-base em relação ao ajuste anterior. Depois a taxa fixou-se em níveis mais baixos, mas ainda assim acabou elevada.
O movimento do dia fez com que, perto do fechamento, a precificação da curva a termo indicasse 80% de chance de manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano em junho, contra 20% de probabilidade de corte de 25 pontos-base.
No exterior, os rendimentos continuaram a cair de forma constante.
Às 16h39, o rendimento do Tesouro de dez anos – referência global para decisões de investimento – caía 7 pontos base, para 4,33%.
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