Ao acompanhar a contratação e ‘acomodação’ dos investigados da Operação Ptolomeu em um ‘gabinete fantasma’ da Assembleia Legislativa do Acre, a Polícia Federal também suspeita que o mesmo procedimento teria levado à nomeação de outros alvos da investigação em assessoria cargos na Câmara dos Deputados. Deputados.
Ó Estadão apurou que pelo menos três servidores citados no inquérito Ptolomeu – inquérito que tem como principal alvo o governador do Acre Gladson Cameli (PP) – teriam sido abrigados em gabinetes de deputados federais, o que foi visto como um ‘drible’ às restrições impostas pela ministra Nancy Andrighi, relatora do Superior Tribunal de Justiça – entre essas medidas está o afastamento de investigados de atividades em cargos públicos no Estado.
Os servidores visados pela PF foram lotados nos gabinetes dos deputados Zezinho Barbary e Socorro Neri, ambos do PP, mesmo partido de Gladson. Socorro informou ao repórter que só tomou conhecimento das disputas judiciais dos assessores na última quarta-feira, 29, e que nenhum deles teria qualquer impedimento, mesmo cautelar, para trabalhar em seu gabinete.
A parlamentar indicou ainda que, ‘por opção pessoal’, decidiu pela substituição dos servidores e já protocolou pedido nesse sentido no sistema da Câmara.
Zezinho afirmou que ‘não tinha conhecimento do impedimento legal para a contratação de Ricardo França e está tomando providências quanto à sua demissão do time’.
A PF suspeita que a colocação de investigadores da Operação Ptolomeu em gabinetes da Câmara seria uma estratégia para ‘contornar’ a determinação do ministro do STJ.
A Operação Ptolomeu é uma investigação sobre suposta corrupção e fraude em licitações no governo Gladson Cameli.
Um dos investigados é Ricardo Augusto França da Silva, advogado nomeado para cargo de ‘natureza especial’ desde outubro de 2023 no gabinete de Zezinho, com salário bruto de R$ 9,6 mil.
Meses antes de assumir essa função, em março de 2023 – quando o passaporte do governador foi apreendido em uma das etapas de Ptolomeu -, Ricardo França foi alvo de medidas cautelares. Ele foi afastado do cargo de chefe da Representação do Governo do Acre em Brasília e proibido de ingressar em órgãos públicos do Estado.
França é aliada do governador. Entre 2015 e 2018 atuou como assessor parlamentar de Cameli que, na época, exercia o cargo de senador por seu estado. Em 2019, o advogado assumiu o órgão do Acre, braço do governo em Brasília.
Em 2006, Ricardo França foi alvo da Operação Sanguessuga, que investigou uma organização de ex-parlamentares, assessores, empresários e funcionários do Ministério da Saúde pela venda de ambulâncias superfaturadas por meio de licitações fraudulentas em prefeituras de oito estados.
Os investigadores identificaram outros dois nomes conhecidos na lista de funcionários do gabinete de Socorro Neri: Rafael Batista Vieira e Sebastião da Silva Rocha. O primeiro chegou em julho de 2023, o outro tomou posse em janeiro passado.
Quando foi inaugurada a Operação Ptolomeu, em 2022, Rafael ocupava cargo comissionado no Senado, no gabinete de deputado de Cameli. Nos autos da investigação, Rocha foi apontado como motorista da Representação do Acre em Brasília.
Lembre-se da Operação Ptolomeu
A Operação Ptolomeu, que tem como principal alvo o governador Gladson Cameli, investiga supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a alta administração de sua gestão. Como mostra o Estadão, entre os elementos que colocam a PF na pista de desvios nas contratações em Saúde e Infraestrutura está um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontando vinte denúncias de transações financeiras suspeitas envolvendo o governador. As transações notificadas ultrapassam a marca de R$ 828 milhões.
O ponto de partida das investigações foi uma gravação, obtida por meio de interceptação telefônica, que sugere que o governador teria recebido R$ 70 mil em propina. Ao solicitar autorização ao STJ para realizar buscas nos endereços do governador, a Polícia Federal levantou suspeitas sobre o uso de agentes das forças de segurança do Acre para movimentar dinheiro de origem supostamente irregular.
Entre as informações que serviram de base para a segunda fase da operação está uma gravação feita por câmeras de segurança de um hotel em Cruzeiro do Sul (BVMF:), município a 636 quilômetros de Rio Branco. O vídeo mostra o momento em que os assessores de Camelli escondem um celular para evitar que ele seja apreendido durante as buscas na primeira fase de Ptolomeu.
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