A Procuradoria-Geral da República entrou com recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, 4, para tentar reverter a decisão do ministro da Corte Dias Toffoli que anulou todos os processos e investigações envolvendo o empresário Marcelo Odebrecht na Operação Lava Jato. O titular do Ministério Público Federal, Paulo Gonet, pede que Toffoli reconsidere sua decisão ou envie o caso para julgamento no plenário do STF.
Embora tenha anulado todos os processos e investigações relativos ao empresário, Toffoli preservou o acordo de delação premiada assinado por Marcelo Odebrecht. No seu recurso para o tribunal, o Procurador-Geral da República afirma que, se o acordo de colaboração fosse considerado válido, “não há que falar na nulidade dos actos processuais praticados em consequência directa das descobertas obtidas naquele mesmo acordo”.
“A prática dos crimes foi efetivamente confessada e detalhada pelos membros da sociedade empresarial com entrega de documentos comprobatórios. Tudo isso ocorreu na Procuradoria-Geral da República sob a supervisão final do Supremo Tribunal Federal”, afirma Gonet em trecho da manifestação.
Marcelo Odebrecht é réu confesso. Após fechar acordo de colaboração premiado com a extinta força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, ele admitiu ter pago propina a centenas de agentes públicos e políticos de diversos partidos. Então presidente da construtora que leva o sobrenome da família quando a Lava Jato eclodiu em 2014 e prendeu os principais executivos do grupo, Marcelo Odebrecht afirma agora que foi obrigado a assinar o acordo de delação premiada.
Mensagens
A defesa do empresário utilizou mensagens hackeadas da força-tarefa da Lava Jato, obtidas na Operação Spoofing, que prendeu os responsáveis pela invasão do Telegram do ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores, para recorrer ao Supremo. Os advogados de Marcelo Odebrecht pediram a prorrogação de uma decisão que beneficiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na opinião do procurador-geral da República, porém, as situações de Lula e Marcelo Odebrecht são diferentes e, portanto, a decisão que favoreceu o presidente não poderia ter sido estendida ao empresário. “Há, aqui, uma falta de correlação estrita entre o pedido e a decisão tomada no processo decisório que pudesse servir de paradigma”, argumenta Gonet no recurso para o Supremo Tribunal.
Outra preocupação da Procuradoria-Geral da República é um “efeito cascata” da decisão de Toffoli, que pode levar a investigações decorrentes do acordo do empresário em outras esferas. Como mostra o Estadãoo Ministério Público de São Paulo, por exemplo, que abriu investigações após o acordo Odebrecht, aguarda decisão definitiva do Supremo para analisar o impacto que as anulações, se mantidas, poderão ter nas investigações internas.
‘Prova’
Para o Procurador-Geral da República, a anulação generalizada de processos é irregular. “Se houve algum vício nesses processos decorrente da legítima colaboração da premiação, tal argumento exige demonstração factual completa. Esta é uma questão dependente de provas.”
A Petrobras (BVMF:) também interpôs recurso no processo. A empresa pediu que Toffoli esclareça se as investigações iniciadas após o acordo de colaboração premiada de Marcelo Odebrecht poderão ser reabertas pelo Ministério Público. A empresa incluiu prejuízos com corrupção, revelados na Lava Jato, no balanço financeiro divulgado em 2015. Os prejuízos foram calculados em R$ 6 bilhões.
Ao anular os atos contra Marcelo Odebrecht, em maio, Toffoli apontou “conluio processual” entre Moro (atual senador da União Brasil pelo Paraná) e integrantes da força-tarefa em Curitiba, e que os direitos do empresário foram violados nas investigações e crimes ações . Por isso, ordenou o arquivamento das investigações e processos envolvendo Marcelo Odebrecht.
Outras decisões do ministro atenderam apelos da Odebrecht. Em fevereiro, Toffoli suspendeu o pagamento das parcelas de multa da empresa acertadas nos acordos de leniência assinados na Lava Jato. A Odebrecht se comprometeu a pagar R$ 2,72 bilhões em 20 anos. Em setembro do ano passado, o ministro determinou a anulação das provas que sustentavam a leniência da Odebrecht. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.
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