Dos 20 deputados federais que compõem o grupo de trabalho (GT) criado para definir regras para as redes sociais no Brasil, 14 votaram contra a criminalização das fake news.
No dia 28 de maio, mantiveram o veto do ex-presidente Jair Bolsonaro ao texto que punia, com até cinco anos de prisão, quem promovesse ou financiasse “campanha ou iniciativa de divulgação de fatos que sabem serem inverídicos, e que sejam passíveis de comprometimento”. a saúde do processo eleitoral”.
Dos parlamentares do GT, apenas quatro votaram pela derrubada do veto e dois não votaram na sessão.
O grupo foi criado nesta quarta-feira (5) e terá 90 dias, prorrogáveis por mais 90, para apresentar um projeto que defina regras para funcionamento de plataformas digitais no Brasil.
O cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Luis Felipe Miguel avaliou que a composição foi desfavorável aos que defendem regras mais firmes contra a desinformação e que pedem maior responsabilização dos gigantes da tecnologia.
“É uma comissão completamente tendenciosa, a gente vê, só de olhar os nomes, que tem uma bancada de notícias falsas fortemente representado. São parlamentares cuja carreira está extremamente ligada a essa disseminação deliberada de inverdades”, afirmou.
Para o especialista, grande parte da elite parlamentar brasileira depende “massivamente da possibilidade de contar mentiras em público impunemente”.
Segundo a presidência da Câmara, a composição destes grupos de trabalho é sempre fruto de entendimentos entre dirigentes partidários.
O GT criado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), substituiu a tramitação do PL 2.630/2020, conhecido como PL das Fake News, então sob relatoria do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). Segundo Lira, esse PL estava “contaminado” pela discussão ideológica e seria preciso começar o debate do zero.
Em 2023, a Câmara tentou votar o PL 2.630, mas Lira preferiu retirar o projeto da pauta por falta de acordo entre os parlamentares. Na época, o presidente da Câmara atribuiu a falta de acordo à ação de grandes tecnologiasquais são as multinacionais que controlam as redes sociais.
Para o cientista político Luis Felipe Miguel, a suspensão do projeto foi um retrocesso. “Com a tentativa de golpe contra o presidente Lula [em 8 de janeiro de 2023]Arthur Lira estava dando um show de que pretendia encaminhar algo para tentar transformar o debate virtual no Brasil em algo menos parecido com um espaço regido pela lei da selva”, disse.
Porém, segundo o cientista, o debate foi “atropelado por uma campanha de desinformação orquestrada por grandes empresas em plataformas sociodigitais, o grandes tecnologiasjunto com a extrema direita.” “E acabou que o PL foi arquivado”, completou.
Parlamentares contrários à criação de regras e responsabilização para redes sociais no Brasil argumentam que a medida representaria um risco à liberdade de expressão e poderia gerar perseguições na internet. Quem defende regras para redes sociais afirma que elas são necessárias para coibir crimes cometidos on-line.
Proporcionalidade
A distribuição das comissões permanentes da casa e a composição dos GTs tendem a respeitar a proporcionalidade entre o tamanho de cada bancada, ou bloco partidário, e o número de membros que possuem em cada comissão ou grupo. No caso do GT das redes sociais, a proporcionalidade foi semelhante, na maioria dos casos, variando ligeiramente dependendo do bloco ou partido.
O bloco formado por União Brasil/PP/PSDB/Cidadania/Solidariedade/PDT/Avante/PRD tem 31% das cadeiras na Câmara, e detinha 35% das cadeiras no GT das redes, com sete parlamentares.
O bloco MDB/PSD/Republicanos/Podemos, que tem 28% das cadeiras na Câmara, recebeu 25% das cadeiras no GT, com cinco deputados. O PL tem 18% das cadeiras e ficou com 15% das cadeiras do GT. O partido Novo, com apenas 0,5% das cadeiras na Câmara, ficou com vaga no GT, o que representa 5% do total.
O bloco PT/PCdoB/PV, que tem 15% das cadeiras na Câmara, ficou com 10% das cadeiras. O PSOL/Rede, que tem 2,7% das cadeiras, ficou com uma vaga no GT, que representa 5% do total do grupo de trabalho. O PSB, que também tem apenas 2,7% das cadeiras, ficou com vaga no GT.
Confira a lista de deputados que compõem o colegiado:
■ Ana Paula Leão (PP-MG)
■ Fausto Pinato (PP-SP)
■ Júlio Lopes (PP-RJ)
■ Eli Borges (PL-TO)
■ Gustavo Gayer (PL-GO)
■ Filipe Barros (PL-PR)
■ Glaustin de Fokus (Podemos-GO)
■ Maurício Marcon (Podemos-RS)
■ Jilmar Tatto (PT-SP)
■ Orlando Silva (PCdoB-SP)
■ Simone Marquetto (MDB-SP)
■ Márcio Marinho (Republicanos-BA)
■ Afonso Motta (PDT-RS)
■ Delegada Katarina (PSD-SE)
■ Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ)
■ Lídice da Mata (PSB-BA)
■ Rodrigo Valadares (UNIÃO-SE)
■ Marcel Van Hattem (NOVO-RS)
■ Pedro Aihara (PRD-MG)
■ Érika Hilton (PSOL-SP)
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