Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – As taxas do DI dispararam mais de 40 pontos-base em alguns contratos nesta sexta-feira e a curva a termo praticamente apagou as apostas de que o Banco Central poderia cortar este mês, com prêmios subindo após dados do mercado de trabalho dos EUA indicarem que pode reduziu a sua taxa de juro apenas uma vez em 2024, e não duas vezes como esperado anteriormente.
No final da tarde, a taxa DI (Depósito Interbancário) de janeiro de 2025 – que reflete a política monetária no curtíssimo prazo – estava em 10,58%, ante 10,444% do reajuste anterior. A taxa DI de janeiro de 2026 foi de 11,205%, ante 10,853% do reajuste anterior, enquanto a taxa de janeiro de 2027 foi de 11,58%, aumento de 42 pontos base ante 11,165% do reajuste.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2029 foi de 11,965%, ante 11,582%, e o contrato de janeiro de 2033 foi de 12,15%, ante 11,83%.
Divulgação mais esperada da semana, o relatório indicou que foram abertos 272 mil empregos fora do setor agrícola em maio nos EUA, bem acima dos 185 mil empregos projetados por economistas consultados pela Reuters. As estimativas dos economistas variaram de 120.000 a 258.000.
A leitura inicial do mercado foi que, com a economia a aquecer conforme indicado pela folha de pagamento, a Reserva Federal não terá espaço para cortar as taxas de juro duas vezes este ano, mas apenas uma vez.
Em reação, saltou 10 pontos base no minuto em que foi divulgado, às 9h30, o que também impulsionou as taxas DI no Brasil.
A taxa contratual para janeiro de 2027 – uma das mais líquidas – também subiu 10 pontos base no minuto em que foi anunciada, antes de continuar a subir.
No pico do dia, às 16h13, em meio à alta dos pedidos de stop loss, o DI 2027 marcou 11,780%, alta de 62 pontos-base em relação ao ajuste do dia anterior. As taxas dos contratos de maior prazo, como o DI para janeiro de 2033, fecharam acima de 12%.
Na curva a termo, as apostas majoritárias eram de que, no cenário atual, o Comitê de Política Monetária () do Banco Central não reduzirá a taxa básica Selic neste mês, atualmente em 10,50% ao ano. Além disso, a curva precificou no período da tarde maiores chances de alta da Selic no final do ano – em setembro ou novembro.
Segundo Lais Costa, analista da Empiricus Research, a curva refletiu o aumento dos prêmios de risco no cenário atual.
“Isso pode ser observado no mercado de opções do Copom. Qual a probabilidade do BC subir a Selic em setembro? Na prática, é muito baixo. Mas se todos pensarem nessa possibilidade, há um aumento no custo (das opções), o que seria um aumento de probabilidade”, comentou. “Mas nem quem compra (as opções) acredita que o BC vai subir os juros”, acrescentou, lembrando que muitas dessas apostas são feitas como proteção.
Em evento pela manhã em São Paulo, ao ser questionado sobre a possibilidade de o Banco Central elevar a taxa Selic devido ao aumento das expectativas de inflação, o diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos da autoridade, Paulo Picchetti, disse que “É prematuro , por enquanto, para falar sobre isso.
“Por enquanto, é prematuro. Agora, diante do compromisso, continua existindo uma extrema dependência de dados para a tomada de decisões”, acrescentou, referindo-se ao compromisso do BC em levar a inflação para o centro da meta, de 3%.
No último relatório, divulgado esta semana, a projeção de inflação para 2025 passou de 3,75% para 3,77%, acima da meta de 3%, no quinto aumento consecutivo.
Entre os fatores citados pelas autoridades do BC para elevar as expectativas estão o cenário externo, as preocupações com o equilíbrio fiscal do Brasil e as dúvidas sobre a manutenção da meta de inflação em 3% e sobre a composição da liderança máxima da autoridade. a partir de 2025.
Em outro evento da manhã, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, também abordou mais uma vez o recente aumento das expectativas de inflação.
“Entendemos que existem alguns fatores que influenciaram as expectativas de inflação que estão ligados ao ruído ocorrido. Achamos que o tempo jogará a favor do Banco Central, porque parte desses ruídos serão resolvidos com o tempo”, disse.
Perto do fechamento, a curva de preços apontava 96% de chance de manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano na reunião de junho do BC Copom. Havia outra probabilidade de 4% precificada no sentido de que o colegiado pudesse aumentar a Selic em 25 pontos-base neste mês –probabilidade que apareceu no final da tarde desta sexta-feira.
Na quinta, a probabilidade de manutenção estava em 88% e havia outros 12% cotados para corte da Selic.
Em São Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concedeu entrevista a jornalistas à tarde e defendeu a medida provisória enviada ao Congresso que restringe a compensação de créditos tributários.
Segundo ele, as resistências à MP se dissiparão à medida que houver maior entendimento sobre a intenção do governo de reduzir os gastos tributários. Haddad afirmou ainda que o governo poderá eventualmente fazer um contingenciamento de despesas orçamentárias do ano para garantir o cumprimento das regras fiscais.
Durante a entrevista de Haddad, as taxas DI atingiram seus picos no dia, assim como os preços livres, em meio ao desconforto do mercado em relação ao cenário fiscal e ao ambiente externo.
Às 16h56, o rendimento do Tesouro de dez anos – referência global para decisões de investimento – subia 15 pontos base, para 4,432%.
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