Em maio, o governo do Rio Grande do Sul afirmou que a safra de arroz produzida no estado durante o ano será suficiente para atender às demandas do país, mesmo após perdas devido às enchentes desde o final de abril.
O cultivo do arroz é uma parte significativa da agricultura no Rio Grande do Sul, devido ao clima subtropical da região. A cada dez sacas de arroz, sete saem do estado. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o estado é responsável por 70% da produção de arroz do país.
Segundo dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), mesmo com perdas por enchentes, a safra 2023/2024 deve ficar em torno de 7.149.691, o suficiente para abastecer os supermercados. Na safra passada, foram 7.239 mil toneladas.
Rodrigo Machado, presidente do Irga, afirma que grande parte dos hectares de arroz já foi colhida. “Quando ocorreram as enchentes no Rio Grande do Sul, a safra de arroz já estava 84% colhida, restando 142 mil hectares a serem colhidos. Destes, 22 mil foram perdidos e 18 mil ficaram parcialmente submersos. Entre os grãos armazenados nos silos, 43 mil toneladas ficaram comprometidas”, informa.
“Mesmo considerando as perdas, temos uma colheita praticamente idêntica à anterior, o que nos leva a inferir que não faltará arroz”, aponta Rodrigo Machado.
Huli Marcos Zang, agricultor e presidente da Associação de Moradores do Assentamento Filhos de Sepé, contou Metrópoles na produção agrícola. “Dados sistematizados até o momento indicam perda de até 10% da produção ainda no campo. Nos orgânicos, especificamente, a perda foi bem maior, chegando a mais de 50%. Porém, de forma geral, o fluxo já está se normalizando, com a retomada do acesso via rodovias e a redução dos níveis das águas”, explica.
Huli também informa sobre o futuro da produção de arroz. “Acho que toda produção de alimentos precisa ser repensada. Não apenas o arroz. Hoje há enchentes, 2022 foi uma seca terrível. Então é preciso repensar o modelo e espero profundamente que a produção agroecológica ganhe mais força e espaço nesse contexto”, finaliza.
Produtor gaúcho, Daniel Gonçalves da Silva disse ao Metrópoles que houve apenas perdas “específicas” nas lavouras de arroz do estado. “A maior parte do Estado já teve sua produção de arroz colhida. Então, isso garante o abastecimento. (…) Não há risco de faltar arroz”, sublinhou.
Logística
De acordo com dados de monitoramento de rodovias federais consolidados até a última quarta-feira (5/6), cinco trechos de duas rodovias foram totalmente interditados e 23 trechos de seis rodovias federais foram parcialmente interditados.
Com as estradas bloqueadas, a realidade do setor de transporte e logística gaúcha vem enfrentando dificuldades.
O especialista em logística James Theodoro relata que o transporte pode afetar na hora de adquirir o produto. “A logística afeta diretamente o valor do produto, já que o custo do frete é repassado ao consumidor. Quanto maior o custo do frete, maior o valor do produto, impactando no poder de compra do consumidor”, afirma.
Ainda segundo James, devido aos bloqueios nas estradas, isso poderá afetar o transporte para os mercados do país. “É preciso esperar que o nível da água baixe, o que pode atrasar significativamente a distribuição de alimentos. Dependerá da descida do nível das águas e do investimento dos governos na recuperação de estradas e infra-estruturas (aeroportos e portos). Num cenário sem queda no nível das águas, será necessário que o Exército Brasileiro, especializado em logística, ajude no escoamento da produção para evitar maiores perdas”, ressalta.
Drenar R$
Produtores e empresas gaúchas estão operando bombas móveis de cultivo de arroz para drenar cidades alagadas na região do aeroporto de Porto Alegre. O projeto visa ajudar a escoar as águas das enchentes que atingem o estado desde o final de abril.
No total, foram instaladas mais de oito bombas, utilizadas para irrigar plantações de arroz, e adaptadas para drenar grandes volumes de água em áreas urbanas.
As bombas são capazes de drenar entre 200 e 500 litros de água por segundo. Cidades como Porto Alegre, Novo Hamburgo e Canoas já foram beneficiadas pela ação.
Daniel Gonçalves da Silva, produtor rural e um dos voluntários do projeto relatou sobre a iniciativa. “O projeto é feito com pessoas de Pelotas. Como começaram essas enchentes, temos lavouras de arroz, houve a possibilidade de levar para a cidade a experiência que tivemos nas propriedades. Começamos em Pelotas e depois expandimos para Porto Alegre. Foi um processo que começou, mais ou menos, em uma semana, no aeroporto Salgado Filho, onde adquirimos todos os equipamentos, de forma 100% voluntária. E com isso começamos a fazer a drenagem, agora estamos com a pista totalmente descoberta”, explica.
“Nossa maior preocupação são as áreas que estão submersas. Então fica uma grande dúvida de como essas águas vão recuar em uma parte da propriedade para que possamos, dentro de três a quatro meses, iniciar uma nova colheita”, finaliza.
Bombas no aeroporto de Porto Alegre
Aeroporto de Porto Alegre
Pista de aeroporto ficou inundada após enchentes no Rio Grande do Sul
Ricardo Stuckert/ Presidência da República
Produtores e voluntários do projeto Drenar RS
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Leilão
O governo federal, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), adquiriu, na última quinta-feira (6/6), 263 mil toneladas de arroz importado em leilão público. Correspondendo a 88% do pedido inicial do governo, que seria de 300 mil toneladas, o produto foi adquirido por R$ 25, embalagem de 5 kg, e chegará à mesa do consumidor final por R$ 20 (ou seja, R$ 4 o quilo de 1 kg). ).
De acordo com o edital publicado no dia 29 de maio pela Conab, a remessa deverá ser entregue até 8 de setembro.
Segundo o presidente da Conab, Edegar Pretto, o objetivo do leilão é “garantir o acesso fácil e mais barato da população a um alimento que é a base do dia a dia das famílias do país”.
O presidente afirmou ainda que a importação se deve a uma necessidade de proteção ao consumidor.
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