Imagine viver com a sensação constante de estar sendo observado, com a paz invadida por alguém que monitora cada movimento seu. Essa é a realidade de muitos brasileiros que enfrentam stalking, palavra inglesa para “perseguição”, comportamento que se caracteriza pela insistência obsessiva de uma pessoa em observar, seguir ou se comunicar com outra.
Stalking, ou perseguição obsessiva, envolve uma série de comportamentos repetitivos e indesejados que podem variar desde mensagens e telefonemas incessantes até vigilância física e virtual. Este fenómeno é marcado pela invasão persistente e perturbadora da vida privada de alguém. Suas consequências emocionais e psicológicas podem ser devastadoras.
O Brasil deu um passo importante no combate ao stalking com a promulgação da Lei nº 14.132, de 2021, que classificou o crime de perseguição. A lei prevê pena de prisão de seis meses a dois anos, além de multa, para quem for condenado.
Perseguindo vítimas
As vítimas de perseguição podem ser de qualquer sexo, idade ou classe social, mas as mulheres são desproporcionalmente mais afetadas. De acordo com a última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, elaborado pela Fórum Brasileiro de Segurança Pública e publicado no ano passado, com dados de 2022, cerca 155 mulheres por dia, no Brasil, registraram boletim de ocorrência por perseguição, ou “perseguição”..
Em 2022, foram registrados 56.560 casos de perseguição, 80,2% a mais que o número observado em 2021 (31.389). Uma vítima entrevistada pela reportagem, que por questões de segurança preferiu não se identificar, afirmou que foi perseguida por um perseguidor em 2018.
“Acho que a primeira vez que ele me viu foi no supermercado. Ele ficou obcecado por mim. Suspeito que o cara me seguiu até em casa, porque ouvi de vizinhos que ele perguntou meu nome. Ele começou a seguir minha rotina, sabia até quando eu ia passear com meu cachorro. Ele encontrou meu telefone e estava enviando fotos minhas enquanto eu estava na academia. Ele me ligava sem parar, recebia muitas mensagens dele por dia. Ele se declarou, disse que não iria parar até me ter”, relata.
A vítima conta ainda que o perseguidor só parou de persegui-la quando ela decidiu ir até a delegacia e registrar boletim de ocorrência. “Ele interrompeu as mensagens e ligações. Nunca mais ouvi falar dele. Tenho medo que esse cara apareça do nada e faça alguma coisa. Mas não sou incomodada por ele há cerca de cinco anos”, diz ela.
Consequências psicológicas da perseguição
As consequências psicológicas da perseguição podem ser profundas e duradouras. As vítimas frequentemente relatam ansiedade, depressão, medo constante e traumas que afetam sua qualidade de vida.
“O fato de ser perseguido, sob ameaça, acaba gerando um estado de alerta permanente, afetando a saúde mental e a qualidade de vida do perseguido. Além disso, o isolamento social e a separação da família por medo agravam o sofrimento. Outro ponto importante é a depressão e pensamentos suicidas, que são recorrentes devido ao sentimento de impotência e humilhação constante”, alerta a psicanalista Andréa Ladislau.
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Arte Metrópole
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Perfil de perseguidor
Stalkers variam em seus perfis. Podem ser ex-companheiros, colegas de trabalho, conhecidos ou até completos estranhos. Partilham, no entanto, uma característica comum: a obsessão pela vítima.
“Normalmente quem pratica stalking apresenta fortes características de perfil psicológico borderline ou mesmo esquizofrênico. Apresentam um padrão de relacionamento interpessoal intenso e instável; transtornos de identidade; comportamentos suicidas recorrentes; instabilidade afetiva; sentimentos crônicos de vazio; comportamentos agressivos ou autolesivos; distorção da autopercepção; exceção à manipulação e à autossabotagem”, explica Andréa Ladislau.
Segundo Ladislau, o stalking muitas vezes é uma extensão de relacionamentos abusivos, onde o agressor não aceita o fim do relacionamento e tenta manter o controle sobre a vítima, “assim como o gaslighting, que se caracteriza por atitudes veladas e contraditórias, para que o carrasco pode mostrar que a vítima está enlouquecendo.”
@metropolesoficial O caso da mulher que foi presa por #stalking depois de ligar mais de 500 vezes para um #doutor em um único dia, com a intenção de iniciar um relacionamento amoroso, trouxe à tona o debate sobre o crime de #perseguição. A perseguição ocorre quando uma pessoa persegue outra, seja pessoalmente ou através de telefonemas, mensagens ou outras formas de comunicação. A pena para este crime pode variar de seis meses a dois anos de prisão, dependendo da gravidade e das circunstâncias do caso. Em entrevista ao Boletim Metrópoles, a advogada criminalista Larissa Pettengill explicou os principais elementos que caracterizam o comportamento dos stalkers e como a legislação brasileira define esse tipo de crime. #TikTokNotícias ♬ som original – Metrópoles Oficial
“A violência psicológica também se assemelha ao stalking do ponto de vista dos danos emocionais causados, pois está relacionada a diversos comportamentos que causam danos emocionais e redução da autoestima, ou que visam controlar suas ações e isolá-lo de sua família. Temos também a violência patrimonial e a violência moral que difamam, controlam e depreciam a imagem e a honra da vítima”, afirma o psicanalista.
Sinais de aviso
É comum que muitas pessoas não percebam os sinais de que estão sendo vítimas de um stalker. O advogado criminalista Eduardo Maurício alerta sobre alguns deles:
“A perseguição repetida é o primeiro sinal de alerta de um comportamento específico de perseguição, e esse ato pode ser configurado através do envio de muitas mensagens ou ligações da mesma pessoa; comentários negativos em postagens nas redes sociais e até criação de perfil falso para assediar a vítima e seus familiares, a fim de localizar os locais e horários em que a vítima pode ser encontrada e monitorar sua rotina criminosa.”
Prevenir e proteger contra a perseguição envolve diversas medidas. Segundo o advogado, é fundamental que as vítimas documentem todas as interações e ameaças, mantendo registos detalhados que possam ser utilizados em processos judiciais.
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“A vítima deverá procurar um advogado criminal especializado neste tipo de crime para que sejam tomadas as medidas policiais e judiciais cabíveis, com o objetivo de: cessar a perseguição com urgência, de forma preliminar e antes do conhecimento do infrator; impor medidas para afastar o agente delinquente e sobretudo conseguir a condenação e sanção penal do criminoso”, explica Eduardo.
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