Pantanal tem junho com mais focos de incêndio da história Por Poder360

O Pantanal registrou o maior número de focos de incêndio para o mês de junho desde 1998, quando o índice começou a ser registrado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Até esta terça-feira (11.jun.2024), havia 489 alertas de incêndio no bioma. O valor representa um aumento 1.037% em comparação com dados de 2022, que teve 43 surtos deste tipo no mesmo período.

Os dados são coletados na plataforma BDQueimadas, alimentada com informações dos satélites do Inpe. Segundo a plataforma, o recorde anterior era de junho de 2005. O período registrou 188 focos de incêndio no bioma.

Com 150.355 km², o Pantanal é uma das maiores áreas úmidas contínuas do mundo. De sua área, 65% estão no território de Mato Grosso do Sul e 35% em Mato Grosso.

Até maio deste ano, o bioma perdeu 1.276 km² para o fogo. Em 2023, no mesmo período houve uma perda de 120 km². Em comparação, terras perdidas pelas chamas cresceram 963%.

O 1º semestre de 2024 já registrou 1.388 incêndios na região, um aumento de 943% em relação aos 133 pontos do 1º semestre de 2023. Este é o 3º maior número da série histórica, atrás apenas do 1º semestre de 2020 ( 2.180) e 2009 (2.021).

No total, o ano de 2020 regista o maior número de focos de incêndio registados. Na época, eles eram 22.116 notificações deste tipo Isso é 39.768 km² destruídos pelas chamas.

Desde 2019, o bioma registra mudança nos padrões de chuvas, que são modulados de acordo com as monções de verão sul-americanas. Em 2020, por exemplo, a região enfrentou uma seca prolongada, com as menores precipitações desde a década de 1980.

A Bacia do Rio Paraguai, principal responsável pela irrigação do bioma, já enfrenta sinais de uma nova seca em 2024. Segundo monitoramento do SGB (Serviço Geográfico Brasileiro), diversos pontos da bacia estão bem abaixo da média histórica de junho.

No município de Ladário (MS), por exemplo, o rio atingiu 1,38 metros no dia 6 de junho. A profundidade esperada para o período é de 4,33 metros.

Seca e mudanças climáticas

Segundo Diego Rugno Arruda, especialista da Synergia Consultoria Socioambiental, a expectativa é que a seca deste ano supere os recordes anteriores no bioma. Para ele, porém, a União e os governos estaduais não têm proposto ações na mesma medida em que chegam os alertas.

Arruda explica que, para que uma cadeia de incêndios se inicie no Pantanal, são necessários 3 componentes: calor, oxidante e combustível. No caso do bioma, a seca e a grande disponibilidade de matéria orgânica são elementos essenciais para a expansão do fogo.

“Este ano vivemos uma grande seca no Pantanal, que deverá bater os recordes históricos dos últimos anos. Temos também a questão da matéria orgânica acumulada nas grandes propriedades, que provoca essa reação em cadeia. O que deve ser feito é um plano integrado de manejo do fogo, com controle dessa matéria orgânica, para queimá-la em momentos mais oportunos. Não foi isso que vimos do governo”, diz o especialista.

Romulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, calcula que os dados de 2024 apontam para um cenário de incêndios maior do que 2023. Isso porque o período de julho a outubro é tradicionalmente responsável pelos maiores números de incêndios do ano.

“Mas não é só o clima que explica este número de incêndios. Uma coisa muito importante é punir quem pratica queimadas ilegais. A legislação ambiental brasileira ainda termina com uma punição mais branda, com multas que não são pagas e não pesam no bolso de quem comete crimes ambientais”, afirma o especialista.

Batista afirma ainda que cabe ao governo federal investir em um plano nacional de combate a incêndios com orçamento fixo, pessoas e equipamentos, com atividades que não estejam apenas nas mãos de grupos voluntários.

“Temos que pensar que estamos num momento de mudanças climáticas, de mudanças nos ciclos de chuvas, e precisamos nos preparar como país para isso, com um programa sério de proteção ambiental por parte do governo”, afirma.

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