Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – O preço à vista ultrapassou a barreira dos 5,40 reais nesta quarta-feira, em meio aos temores do mercado em relação ao equilíbrio fiscal do Brasil e depois que a moeda norte-americana recuperou um pouco de sua força no exterior contra moedas fortes, na esteira da política monetária do Federal Reserve decisão que apontava apenas um corte na taxa de juros nos EUA em 2024.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a 5,4036 reais na venda, alta de 0,82%. Este é o maior valor de fechamento desde 4 de janeiro de 2023, quando fechou em 5,4513 reais. Desde aquela data – um dos primeiros dias do governo Lula – o dólar não fechou acima de 5,40 reais.
Em junho, a moeda acumulou alta de 2,91%.
Às 17h57, na B3 (BVMF:) o contrato de primeiro vencimento subia 0,74%, a 5,4200 reais na venda.
Após as fortes altas dos últimos dias, o dólar oscilou em território negativo frente ao real no início do dia, influenciado pela firme queda da moeda norte-americana no exterior após a divulgação de dados favoráveis de inflação norte-americana.
O Departamento do Trabalho dos EUA informou que o índice de preços ao consumidor (IPC) permaneceu inalterado em Maio, depois de ter subido 0,3% em Abril. Nos 12 meses até maio, o indicador cresceu 3,3%, ante 3,4% em abril. Economistas consultados pela Reuters projetavam alta mensal de 0,1% e alta anual de 3,4%.
Os números foram bem recebidos pelo mercado, que aumentou as apostas naquele momento de que o Fed faria dois cortes de juros em 2024, sendo que o primeiro ocorreria até setembro. Isto tirou a força do dólar face a várias moedas globais. No Brasil, a moeda à vista atingiu a cotação mínima de 5,3368 reais (-0,43%) às 10h04, já após o IPC.
Mas o cenário brasileiro mudou completamente antes das 11h, em meio ao desconforto do mercado com a situação fiscal. Na terça-feira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), havia anunciado a decisão de devolver ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva trechos da Medida Provisória do PIS-Cofins que restringiam a compensação de créditos tributários.
A decisão de Pacheco foi vista como uma derrota para o governo e, em especial, para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que buscou junto ao MP cobrir perdas de arrecadação mantendo a isenção da folha de pagamento. A expectativa era que a MP gerasse um aumento de R$ 29 bilhões em receitas em 2024.
Nas mesas de operação, o mal-estar em torno da situação fiscal brasileira foi reforçado pela manhã com declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento no Rio de Janeiro.
Segundo ele, o aumento da arrecadação do governo federal e a queda dos juros permitirão a redução do déficit nas contas governamentais sem impactar os investimentos públicos.
“Estamos arrumando a casa e colocando as contas públicas para garantir o equilíbrio fiscal. O aumento da receita e a queda das taxas de juro permitirão reduzir o défice sem comprometer a capacidade de investimento público”, afirmou.
O facto de Lula ter ligado a redução do défice a um aumento de receitas – e não a cortes de despesas – foi mal recebido por parte do mercado. Além disso, circularam pelas mesas avaliações de que Haddad, devido às recentes derrotas políticas, estava enfraquecido.
Nesse cenário, as taxas DI (Depósitos Interfinanceiros) dispararam e o dólar à vista atingiu novas máximas frente ao real. No pico da sessão, às 10h57, a moeda era cotada a 5,4303 reais (+1,32%). O movimento ocorreu apesar de, no exterior, o dólar continuar em queda.
“O mercado esperava que os dados (inflação nos EUA) melhorassem para dar um respiro aqui e frear a valorização do dólar. Mas a questão fiscal abafou os bons dados de inflação no exterior”, comentou Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
“Quando surge essa oportunidade, com bons dados de inflação, acabamos errando na questão fiscal”, acrescentou.
No início da tarde, o dólar reduziu os ganhos no Brasil, voltando para abaixo de 5,40 reais, mas a decisão do Fed deu novo impulso aos preços.
Apesar de ter mantido a taxa básica na faixa de 5,25% a 5,50%, como esperado, o Fed indicou que vê apenas um corte na taxa de juros em 2024 – e não dois cortes como havia sido precificado na curva norte-americana. Além disso, a instituição citou “progressos modestos” em direção à meta de inflação de 2%.
No seu discurso após a decisão, o presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, afirmou que os membros da instituição ainda não ganharam maior confiança na inflação que permitisse um corte.
Após a decisão do Fed e os comentários de Powell, o dólar recuperou parte de sua força frente a uma cesta de moedas fortes no exterior, apesar de permanecer negativo, e acelerou novamente seus ganhos frente ao real.
Em comentário enviado aos clientes, o analista da Nova Futura Investimentos, Marcos Duarte, afirmou que a oscilação do dólar entre a mínima e a máxima desta quarta foi um movimento “extremamente amplo” para um único pregão.
Segundo ele, em meio ao nervosismo dos investidores, principalmente os estrangeiros “continuam vendendo na bolsa e lucrando e comprando dólares”.
No exterior, às 17h34, a moeda – que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas – caía 0,50%, a 104,730.
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