O presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, Leur Lomanto Júnior (União-BA), defendeu, nesta quarta-feira (12), a proposta que busca permitir que a Mesa Diretora da Casa suspenda, a título cautelar medida, o mandato dos deputados acusados de descumprir princípios e normas que regem a atividade legislativa.
“Quem acompanha o dia a dia do Conselho de Ética sabe que estamos enfrentando uma enxurrada de representações contra diversos parlamentares de diferentes partidos. Na grande maioria, [as representações] lidar com questões comportamentais, excessos e desvios […] Já chegamos ao ponto de fato. Onde iremos parar se não impusermos limites?”, questionou Lomanto, defendendo a aprovação de medidas que procurem coibir as quebras de decoro, incluindo a possibilidade de suspensão do mandato.
“O que estava acontecendo no passado voltou a acontecer de forma muito ativa este ano. Absurdos de total falta de respeito por parte dos parlamentares. Muitas vezes, devido a acordos entre as partes, não foram necessárias sanções mais duras e severas para impedir tais abusos comportamentais. Num passado distante, já tivemos uma morte no Senado. Se não tomarmos medidas mais duras em relação aos desvios de comportamento, amanhã poderemos estar de luto pela morte de um deputado ou por um acidente grave”, acrescentou Lomanto, referindo-se ao assassinato, em 1963, do senador José Kairala, baleado pelo também senador Arnon de Mello, pai do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello.
O Projeto Resolução 32/24 foi apresentado aos líderes partidários pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), nesta terça-feira (11). Segundo a Diretoria, o objetivo do projeto é “prevenir a ocorrência de confrontos desproporcionalmente acirrados entre parlamentares”. No mesmo dia, os parlamentares aprovaram o regime de votação urgente da proposta, por 302 votos contra 142. A expectativa é que a matéria seja votada hoje.
“Para ter o dia inteiro [de hoje] dialogar [analisar o projeto], conseguimos que ontem fosse votada apenas a urgência”, disse Lomanto, sublinhando que considera que há partes da proposta que precisam de ser clarificadas. “A dosimetria de uma possível suspensão em caso de falta grave abre uma questão sobre o que é “falta grave”. Esta é uma lacuna que precisa ser melhor exemplificada para que a medida cautelar de suspensão do parlamentar possa ser aplicada. […] Mas, no nosso entendimento, [a proposta] não tira nenhum tipo de prerrogativa, ou poder, deste Conselho”, afirmou Lomanto.
Outros membros do Conselho Parlamentar de Ética e Decoro se manifestaram sobre o tema durante a reunião do colegiado. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), por exemplo, defende mais debates sobre a proposta. “O projeto chegou de última hora, foi tudo meio corrido. Existem algumas imprecisões e não há definição do que é um fato sério. Fica a critério do presidente [da Câmara] ou o Conselho de Administração [definir]. Isso é muito perigoso. Precisamos discutir.
O deputado Sidney Leite (PSD-AM) concorda com a necessidade de mecanismos legais que evitem que diferenças ideológicas culminem em episódios de agressão, mas considera “muito imprudente” que uma única pessoa possa, por precaução, suspender o mandato de um parlamentar. “Não concordo com isso. Entendo que o que está aí não pode mais ser permitido, pois está piorando a cada dia, mas também entendo que as regras internas desta casa não podem ser rasgadas. feito, poremos fim a esta comissão.”
O conteúdo da proposta também preocupa o deputado Jorge Solla (PT-BA). “Todos temos acompanhado com indignação a escalada das atitudes violentas, da postura antidemocrática dentro e fora do Parlamento, mas o que está em causa não é uma postura exclusiva de alguns deputados. É uma estratégia política de espalhar o ódio, de pregar a violência, de tentar destruir os adversários políticos. Infelizmente, nos últimos anos, esta estratégia política prosperou e ocupou espaço em todo o lado. E não vamos resolver uma situação como esta, que diz respeito à própria cultura política que se criou, à forma como agem os partidos, os parlamentares e os militantes políticos, com uma única medida”, comentou Solla, atribuindo parte do problema à mídia comportamento de alguns políticos. .
“Eu diria que muitos parlamentares estão aqui apenas, ocupando espaço, para gerar conteúdo para suas redes sociais. Não os encontramos debatendo projetos, reportando uma iniciativa ou fazendo o que o Parlamento deveria fazer, ou seja, articular e chegar a denominadores comuns. Eles estão aqui para atacar e partir sem sequer ouvir as respostas. [Nas audiências públicas e reuniões] Tem grupo que se inscreve só para fazer agressões, gerar conteúdo para suas redes e conversar com sua bolha. Esta proposta não só não resolverá o problema, como também gerará graves efeitos secundários. Da mesma forma que o processo de apropriação do orçamento [da União] Já gerou um empoderamento do comando desta Casa que nenhum presidente da Câmara teve”, finalizou Solla.
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