Uma ala do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta adiar a licença para pesquisa de petróleo na Margem Equatorial, no litoral do Amapá, para depois da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas). O evento climático será realizado em novembro de 2025 em Belém (PA).
O grupo é liderado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Busca o apoio de outros integrantes da Esplanada, como o ministro Fernando Haddad (Finanças). O medo é transmitir uma imagem contraditória ao mundo exterior. Embora o Brasil realize o maior evento pró-meio ambiente do mundo em plena Amazônia, ampliar a exploração de combustíveis fósseis na região florestal pode ser um sinal contrário, o que pode colocar em risco a imagem que o governo Lula quer vender como defensor do meio ambiente.
Os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), por exemplo, são da ala oposta. Eles querem que a pesquisa comece. Eles entendem que a liberação do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) não comprometeria a imagem do governo.
O instituto negou a licença para prospecção no litoral do Amapá em maio de 2023. Dias depois, a Petrobras (BVMF:) entrou com recurso administrativo pedindo nova análise. Fez uma série de adaptações para aumentar a segurança nas pesquisas. No entanto, o pedido está parado na agência há mais de um ano.
Até agora, Lula não agiu. O petista é a favor da pesquisa na Margem Equatorial, que tem potencial para ser uma nova camada do pré-sal. Ele chegou a exigir que a nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, se comprometesse com o licenciamento ao lhe entregar o cargo. Porém, ele pode acabar se convencendo do risco à imagem de seu governo na área ambiental.
Na quarta-feira (12.jun.2024), o presidente defendeu a exploração na área. “É importante ter em conta que, assim que começarmos a explorar a chamada margem equatorial, penso que daremos um salto extraordinário de qualidade. Queremos fazer tudo de forma legal, respeitando o meio ambiente, mas não vamos desperdiçar nenhuma oportunidade de fazer este país crescer”ele disse.
Lula chegou a dizer que o problema é que o tema tem sido polêmico. “Temos um debate técnico que precisa ser feito. O problema é que no Brasil tudo é polêmico. Veja, você tem petróleo em um só lugar, a Guiana está explorando, o Suriname está explorando, Trinidad e Tobago está explorando. Você vai deixar o seu inexplorado? Precisamos garantir que a questão ambiental seja levada 100% a sério.”
AJUDA DE GREVE
A greve dos funcionários do Ibama serviu como uma luva ao governo. Com os serviços externos paralisados há mais de 5 meses, a análise dos pedidos de licenciamento fica paralisada. E para liberar a pesquisa será necessário trabalho de campo, como fiscalizações e vistorias, o que não está sendo feito.
Atualmente, todo esse cenário é propício para adiar o licenciamento ambiental até a COP30. Com a greve, o governo já teria uma justificativa pronta para o atraso sem expor um ou outro grupo que se organizou para esse fim.
O QUE ESTÁ EM JOGO
A Margem Equatorial é uma das últimas fronteiras petrolíferas inexploradas no Brasil. Compreende toda a faixa costeira do norte do país. Recebeu esse nome porque fica próximo à linha do Equador. Começa na Guiana e se estende até o Rio Grande do Norte.
A porção brasileira é dividida em 5 bacias sedimentares, que juntas possuem 42 blocos. São eles:
- Foz do Amazonaslocalizados nos Estados do Amapá e Pará;
- Pará-Maranhãolocalizada no Pará e Maranhão;
- Barreirinhaslocalizado no Maranhão;
- Ceará, localizada no Piauí e no Ceará; Isso é
- potiguarlocalizado no Rio Grande do Norte.
A Petrobras tenta perfurar um poço para pesquisa na bacia da Foz do Amazonas que, apesar de ter esse nome, Não está na foz do rio Amazonas. A área onde seria perfurado o poço de petróleo fica a 500 km da foz e a mais de 170 km do litoral do Amapá.
Estudos internos da Petrobras indicam que o bloco em que a estatal busca licenciamento ambiental para exploração na Margem Equatorial tem potencial para conter 5,6 bilhões de barris de petróleo.
Trata-se de um possível aumento de 37% nas reservas de petróleo brasileiras, atualmente em 14,8 bilhões de barris. Enquanto isso, a Guiana já descobriu o equivalente a 75% da reserva brasileira na região.
As reservas da Margem Equatorial são a principal aposta da Petrobras para manter o nível de extração de petróleo a partir da década de 2030, quando a produção do pré-sal deverá começar a cair. Assim, a nova fronteira proporcionaria segurança energética ao país durante a transição para uma economia verde. Estudos globais indicam que o mundo continuará a depender do petróleo até 2050.
Negada pelo Ibama, a licença ambiental inclui um teste pré-operacional para analisar a capacidade de resposta da Petrobras a um possível vazamento. A solicitação é para a perfuração de um poço que permitiria à estatal analisar o potencial das reservas de petróleo na região.
A Petrobras obteve a primeira licença do Ibama para a Margem Equatorial, em setembro de 2023, mas para pesquisas na bacia Potiguar, no litoral do Rio Grande do Norte. Já iniciou perfurações na região para prospecção e entende que as condições ambientais para esta aprovação deverão valer também para a bacia da Foz do Amazonas.
Outro argumento comumente utilizado pela petroleira para atestar a segurança do projeto é Urucu. A Petrobras explora petróleo no campo terrestre, localizado no coração da Amazônia, desde 1986. Nenhum acidente ambiental foi registrado na região.
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