O apresentador José Luiz Datena criticou nesta quinta-feira, 13, o edital de transporte público assinado pelo ex-prefeito Bruno Covas, último integrante do PSDB a comandar a Prefeitura de São Paulo. A crítica foi feita no evento que oficializou o nome de Datena como pré-candidato tucano na disputa eleitoral de outubro.
O jornalista afirmou que seu “sonho” é que a população da cidade utilize o transporte público sem pagar passagem de ônibus do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do crime organizado. Ele mencionou a Operação Fim da Linha, que teve como objetivo o envolvimento da facção com duas empresas de ônibus que prestam serviços na cidade.
“Duas empresas investigadas tinham na diretoria pessoas ligadas ao PCC. E quem permitiu que elas estivessem lá? Foi quem fez a oferta purulenta e fraudulenta”, declarou Datena. Os atuais contratos com empresas de ônibus foram assinados por Covas em 2019. O tucano relançou a licitação depois que São Paulo passou seis anos com contratos emergenciais no setor. O imbróglio começou em 2013, quando o então prefeito Fernando Haddad (PT) suspendeu uma licitação sob a justificativa de aumentar a participação popular.
Datena chegou a aceitar ser vice-presidente de Covas em 2020, de quem se dizia amigo, mas afirmou ter desistido para não incomodar o tucano, já que o PSDB naquele momento estava dividido. Sem apresentador, o escolhido foi o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Após desistir de quatro pré-candidaturas, Datena disse que desta vez irá “até o fim”. “Claro, nossa. Não falei que vou?”, respondeu ele ao ser questionado pelos jornalistas ao final do evento. Ele não queria dar entrevista coletiva para preservar sua voz.
O presidente do PSDB, Marconi Perillo, destacou em seu discurso que o jornalista é um “homem de palavra”, que “cumpre o que promete”. Nos bastidores da festa, até os mais otimistas admitem que Datena é imprevisível. A pré-candidatura deverá ser confirmada pela convenção do partido, realizada entre o final de julho e o início de agosto.
No lançamento, o apresentador repetiu o tom adotado em seu programa de televisão, dizendo que não tem medo de ser prefeito e que fará campanha sem colete à prova de balas. “Vou fazer isso de peito aberto. Atire aqui [aponta para o peito]. Se me deixarem na cadeira de rodas, termino a campanha na cadeira de rodas e ganho”, afirmou Datena.
Ele também criticou a polarização, que, segundo ele, quase levou ao golpe de 8 de janeiro, e rejeitou a transferência da divisão para as eleições municipais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apoia Guilherme Boulos, enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ficou do lado de Nunes.
“No final das contas, quem vai aparecer nas urnas no dia da votação? Aparentemente, vai parecer Lula ou Bolsonaro. Quem vai governar a cidade de São Paulo não será nenhum dos dois. Todo voto será bem-vindo e bem recebido”, disse Datena
O deputado federal Aécio Neves (PSDB), que fez um discurso apaixonado, minimizou a falta de apoio de outros partidos ao pré-candidato tucano. Segundo ele, as alianças são importantes pelo tempo gasto em propaganda eleitoral no rádio e na televisão, mas perdem relevância dado o nível de conhecimento de Datena entre a população.
Aécio citou Mario Covas Neto, que retornou recentemente ao partido, e o ex-senador José Aníbal como bons nomes para ser vice, mas considerou que a decisão caberá ao diretório municipal.
Como previu o Estadão, Datena só deixará seu programa de televisão no dia 30 de junho, prazo máximo definido pela legislação eleitoral. Afirmou que não pagará “um centavo” para financiar a campanha eleitoral. Questionado, Perillo disse que o valor exato a ser investido na candidatura ainda será definido pelo partido, mas, assim como Aécio, indicou que Datena terá o apoio do partido.
As circunstâncias mudaram, diz Datena sobre Tabata
Desde o início do processo eleitoral, o PSDB manifestou preferência pelo lançamento de candidatura própria, mas a falta de nomes viáveis dado o enfraquecimento do partido nos últimos anos apareceu como um obstáculo. A dificuldade foi superada em abril, quando a também pré-candidata Tabata Amaral (PSB) organizou a ida de Datena ao partido na tentativa de conquistar o apoio dos tucanos e tê-lo como vice-presidente.
Nesta quinta, o apresentador elogiou a deputada e disse que a respeita. “Foi ela quem sugeriu que eu viesse para o PSDB. Evidentemente, em outras circunstâncias, isso mudou”, disse, sem entrar em detalhes. O coordenador político de Tabata, Orlando Faria, militante do PSDB e que tentava convencer o partido a apoiá-la, esteve presente no lançamento da pré-candidatura, mas foi discreto. O deputado não compareceu.
Ao ingressar, em abril, Datena declarou que seu desejo era estar ao lado do deputado, mas não citou chapa, que afirmou depender do acordo entre PSB e PSDB. Naquele momento, o jornalista disse que um de seus objetivos era concorrer a uma vaga no Senado em 2026.
Tabata e quem está ao seu redor estão céticos de que a apresentadora de fato se candidate a prefeita, mas argumentam nos bastidores que, se isso acontecer, ele não tirará votos dela, segundo as pesquisas mais recentes. O PSDB é visto como importante pelo histórico de governos da capital paulista, mas se a aliança não prosperar, o deputado deverá buscar o apoio de outros partidos.
Na última pesquisa Datafolha, divulgada no final de maio, tanto Datena quanto Tabata aparecem com 8% das intenções de voto, empatados tecnicamente em terceiro lugar com Pablo Marçal (PRTB), que tem 7%. Boulos, com 24%, e Nunes, com 23%, lideram, também empatados com margem de erro de 3 pontos percentuais.
Discursos falam sobre reconstrução e renascimento do PSDB
O evento foi marcado por discursos que enfatizaram que o PSDB não acabou, mas passa por um processo de renascimento para recuperar protagonismo na política nacional como alternativa à polarização entre o PT e o bolsonarismo. A candidatura de Datena na maior cidade do país foi vista como fundamental neste processo.
“Seremos, acreditem, uma verdadeira alternativa de poder no Brasil dentro de pouco tempo”, disse Aécio. “O enfraquecimento do PSDB se confunde com o enfraquecimento da própria política brasileira. O Brasil não se limita a esses dois polos. Temos que dar aos brasileiros a oportunidade de votar sim a favor de um projeto, em vez de votar não em um dos candidatos .”, continuou o ex-governador de Minas Gerais.
“Nasce hoje aqui o embrião de um projeto importante de governar São Paulo, mas hoje nasce aqui um projeto de liderar o Brasil, junto com Datena.” Ele também agradeceu o apoio de São Paulo à sua candidatura presidencial em 2014, quando foi derrotado por Dilma Rousseff (PT). Questionado se voltaria a liderar o projeto nacional do partido em 2026, o tucano afirmou que participaria do processo, mas não informou qual seria seu papel.
O PSDB terá candidatos a prefeito em 120 das 645 cidades paulistas nesta eleição, segundo o presidente estadual do partido, Paulo Serra. O partido elegeu 179 prefeitos no Estado em 2020, mas sofreu uma debandada de representantes principalmente do PSD (PSD), de Gilberto Kassab.
“Enganaram-se quem disse que o PSDB perderia protagonismo”, disse Serra. “Não somos coadjuvantes, somos protagonistas. Você pode ser o condutor desse processo”, disse Mario Covas Neto ao Datena.
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