O ex-ministro de Estado Aloysio Nunes, histórico do PSDB, anunciou nesta quinta-feira, 13, sua desfiliação ao partido. A decisão foi confirmada por Aloysio ao Estadão e formalizada em carta enviada a José Aníbal, presidente do diretório Tucano na capital paulista.
No documento, Aloysio não explica os motivos da saída do partido do qual é filiado há 27 anos. A desfiliação, porém, ocorre horas depois da confirmação de que o PSDB terá o apresentador Datena como pré-candidato a prefeito de São Paulo. O lançamento da pré-campanha do jornalista está marcado para esta quinta-feira, a partir das 13h30.
A diretoria do PSDB paulista estava indecisa entre apoiar a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), eleito vice-presidente do tucano Bruno Covas em 2020, ou ter candidato próprio a prefeito. Aloysio foi um dos apoiadores de Ricardo Nunes, de cuja gestão fez parte como presidente da estatal SP Negócios.
“Não há razão para o PSDB ter candidato próprio em São Paulo”, disse Aloysio ao Estadão. “É até uma questão de decência o PSDB apoiar a reeleição do prefeito (Ricardo Nunes)”, sugeriu. A pré-campanha de Datena conta com o apoio de Marconi Perillo e Aécio Neves. O ex-ministro criticou a postura do mineiro, de quem foi vice nas eleições de 2014. Para Aloysio, Aécio “deveria cuidar da eleição em Belo Horizonte” em vez de interferir no PSDB paulista.
Aloysio é da “velha guarda” tucana, mas não participou da fundação do partido em 1988. Emedebista, só migrou para o PSDB em 1997. Tem extensa carreira política desde a década de 1960, quando despontou como líder do movimento estudantil. Desde então, atuou como deputado estadual, deputado federal, secretário, ministro e senador.
Ativista estudantil e guerrilheiro na ditadura
Aloysio Nunes Ferreira Filho é natural de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Iniciou sua militância política no movimento estudantil, tornando-se presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, que representa os estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Após o golpe militar de 1964, ingressou no Partido Comunista Brasileiro e passou a trabalhar na clandestinidade, envolvendo-se em ações de guerrilha. Ele foi condenado em processo criminal, mas já estava no exterior, onde continuou lutando.
Em 1974, migrou do Partido Comunista para o MDB, partido de oposição à ditadura militar. Retornou ao país em 1979, com a promulgação da Lei da Anistia.
Líder do governo na Assembleia do Estado
Em 1982, foi eleito deputado estadual, com 46.545 votos. Na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), atuou como líder do governo de Franco Montoro. Na eleição seguinte, em 1986, obteve 64.311 votos e renovou o mandato na Assembleia.
Atuou como líder na Câmara do governador Orestes Quércia, que o nomeou vice-presidente na chapa de Luiz Antônio Fleury (BVMF:), candidato ao governo paulista. Fleury e Aloysio foram eleitos em 1990 com 7.368.730 votos, em segundo turno contra Paulo Maluf, do PDS. De 1991 a 1994, além de deputado, ocupou o cargo de Secretário de Estado dos Transportes.
Candidato a prefeito e ministro
Em 1992, Aloysio foi candidato do PMDB a prefeito de São Paulo. Obteve 537.930 votos e, com o terceiro lugar na eleição, não foi ao segundo turno, em que Maluf venceu o então senador Eduardo Suplicy, do PT, por 2.805.201 votos a 2.024.957.
Em 1994, concorreu a deputado federal, sendo eleito com 53.210 votos. Três anos depois, em 1997, deixou o PMDB e ingressou no PSDB, sigla do então presidente Fernando Henrique Cardoso. No ano seguinte, foi reeleito para um segundo mandato na Câmara, com 83.685 votos. Em 1999, assumiu a Secretaria-Geral da Presidência, permanecendo no cargo até 2001, quando passou para a Justiça. Permaneceu como ministro até 2002. Naquele ano, foi reeleito deputado federal pela terceira vez, com 250.936 votos, a sétima maior votação para o cargo no Estado.
De 2005 a 2006, durante a gestão de José Serra (PSDB) na Prefeitura de São Paulo, tirou licença da Câmara para assumir a Secretaria da Casa Civil da capital.
Senador e candidato a vice-presidente
Em 2010, foi eleito para o Senado por São Paulo, com 11.189.168 eleitores, 30,42% dos votos válidos. Naquela eleição, duas cadeiras no Senado estavam em disputa. A segunda colocada na eleição foi Marta Suplicy, pelo PT, com 8.314.027 votos.
Em 2014, Aloysio foi indicado pelo PSDB para formar, como vice-presidente, a chapa presidencial de Aécio Neves. No primeiro turno, Aécio obteve 34.897.211 votos, 33,55% dos votos válidos. No segundo turno, foram derrotados pela presidente Dilma Rousseff, que foi reeleita com 51,64% dos votos válidos, ante 48,36% dos tucanos.
Dois anos depois da eleição presidencial, Dilma acabaria sofrendo impeachment. Michel Temer (MDB) tomou posse em maio de 2016 e nomeou o senador José Serra para o Ministério das Relações Exteriores. O chanceler deixou a pasta em fevereiro de 2017, sendo sucedido por Aloysio, que permaneceu no cargo até o fim do governo Temer, em dezembro de 2018.
Críticas ao PSDB
Aloysio permaneceu no PSDB, mas passou a fazer críticas cada vez mais contundentes à gestão do partido e à postura de seus apoiadores. Em maio de 2022, quando a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) já começava a ditar o tom do debate político, Aloysio declarou que apoiaria o petista. Naquela época, o então governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, ensaiava uma candidatura à Presidência como “terceira via”, mas o ex-ministro negou a viabilidade do projeto.
“O segundo turno já começou e não só vou votar em Lula, mas vou fazer campanha para ele no primeiro turno”, disse Aloysio Estadão. “Não existe uma terceira via. Existem apenas duas: a da democracia e a do fascismo. Se quisermos salvar o Brasil da tragédia de (Jair) Bolsonaro, teremos que discutir o que vamos fazer juntos”, afirmou. declarado.
O ex-chanceler continuou a criticar setores do partido próximos ao bolsonarismo. Derrotado no primeiro turno da eleição para o governo do Estado, Rodrigo Garcia, do PSDB, anunciou que, no segundo turno presidencial, optaria por Jair Bolsonaro. Aloysio, em Estadãodeclarou que o apoio de Garcia ao candidato do PL era uma “vergonha” e “o envergonha”, sendo agravado pela indiferença do PSDB ao anúncio.
“É uma pena, é o fim do mundo. O apoio do Rodrigo ao Bolsonaro me envergonha. Nem sei se envergonha mais o PSDB. É um absurdo o partido ficar indiferente a essa ameaça à democracia que se aproxima”, disse o tucano em outubro de 2022.
Lula foi eleito no final daquele mês e, em novembro, Aloysio foi anunciado pelo presidente eleito como um dos coordenadores do grupo de trabalho de Relações Exteriores para a transição governamental.
Em julho de 2023, Aloysio concedeu mais uma entrevista ao Estadão e definiu a situação do PSDB como “agonia”. A crise, segundo o ex-senador, pode ser atribuída à postura adotada pelo partido durante o mandato de Jair Bolsonaro.
“O PSDB não só não se opôs como em muitas ocasiões apoiou algumas das medidas mais nefastas do governo Bolsonaro”, analisou. A crise de identidade dos tucanos, segundo Aloysio Nunes, continua vigente. “Como o PSDB decidiu agora cultivar a unidade a qualquer preço, não toma posição nenhuma, nem aqui nem ali. O PSDB, hoje, não é confiável nem está na oposição”, disse, criticando a gestão do presidente nacional do partido , governador gaúcho Eduardo Leite.
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