A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu cinco dias para que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e a Assembleia Legislativa do Estado se pronunciem sobre a lei que criou licença para “trabalho excessivo” para procuradores do estado. O prazo, informou o ministro, é “improrrogável”.
A Advocacia-Geral da República (AGU) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) também foram solicitadas a dizer se consideram ou não o benefício constitucional. Os órgãos terão três dias para enviar seus pareceres, após manifestações do governo e da Assembleia paulista.
O ministro vai aguardar o prazo para decidir se suspende ou não o benefício. Ela informou que pretende decidir com urgência, “com ou sem manifestação”.
Folga ou pagamento em dinheiro
O benefício para os procuradores do Estado de São Paulo foi criado a partir de um projeto de lei apresentado pelo próprio Tarcísio, que pedia urgência na votação do texto. Quem estiver sobrecarregado poderá tirar um dia de folga a cada três trabalhados, até o limite de sete dias de folga por mês, ou receber o valor em dinheiro.
Pelas novas regras, o pagamento em dinheiro deverá ocorrer quando o advogado, “por necessidade do serviço”, não puder se ausentar. Como o projeto parte da premissa do excesso de trabalho, a tendência é que a remuneração se sobreponha aos dias de descanso, ou seja, se torne mais um “extra” fora do teto salarial.
O salário inicial do Ministério Público no Estado de São Paulo é de R$ 38,9 mil.
Advogados que trabalham nos finais de semana ou feriados para cuidar de “medidas extrajudiciais ou judiciais”, que cobrem colegas em férias ou licenças e que acumulam funções em grupos de trabalho, comissões, mutirões, colaboração ou “qualquer atividade pública relevante”.
Ação no STF
O Partido Novo entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal para tentar anular o benefício. O partido alega que a lei é inconstitucional porque foi aprovada na Assembleia Legislativa sem estimativa do seu impacto orçamental e porque, na avaliação do Novo, viola os princípios da moralidade e da eficiência na administração pública.
Para o partido, o benefício funciona, na prática, como um aumento salarial indireto para uma carreira específica. A ação também alerta para o crescimento permanente dos gastos com pessoal no Estado.
Novo estima que esse passivo se tornará uma espécie de bola de neve no longo prazo. Isso porque, argumenta o partido, as atividades deverão se acumular ainda mais com as folgas, pois haverá menos dias trabalhados por mês.
“É inimaginável considerar que um servidor público, por excesso de serviço, possa ter direito a 7 (sete) dias de folga (leia-se: licença) por mês. Mais do que inimaginável, é imoral”, diz trecho da ação .
Novo calcula que, se todos os 915 procuradores da República em atividade solicitarem sete dias de licença em dinheiro todos os meses, o custo da conta poderá chegar a R$ 101 milhões por ano.
A indenização será paga com recursos do fundo de administração da Procuradoria-Geral do Estado. Criado em 1976, é financiado por taxas. O Governo de São Paulo e a Associação dos Procuradores do Estado não informaram quanto está no fundo. O balanço contábil de 2023 informa que há R$ 36,5 milhões nesse fundo.
Em entrevista com EstadãoO presidente da Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo, José Luiz Souza de Moraes, garantiu que a licença não será usada como “farra de touros” e que os funcionários só pedirão remuneração por trabalhos “extraordinários”.
A PGE afirma que a licença é um “instrumento de gestão já adotado por outras carreiras jurídicas nos três níveis de governo”.
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