O melhor é não fumar. Especialistas em saúde de todo o mundo têm a frase na ponta da língua com o objetivo de mostrar que o cigarro na boca é mortal.
Mas como lidar com um mercado cuja receita bruta entre 2022 e 2023, só no Brasil, foi de R$ 10.977.929.575,49, com crescimento de 15,1% em relação a 2021/2022? E que existem cerca de 1 bilhão de usuários no mundo?
Para esses especialistas, que lutam com palavras e ações contra o crescimento do vício no mundo, a resposta está no próprio uso do tabaco. Desde que a discussão seja feita com muita transparência, sem fake news, e com regulamentação de novos produtos.
Essa é a opinião, por exemplo, da Associação de Defensores do Consumidor de Alternativas Antifumo (com a sigla Casaa, em inglês). Para Alex Clark, CEO do grupo sem fins lucrativos, não se trata de briga ou guerra, mas de busca de soluções para quem quer parar de fumar.
“Após décadas de políticas coercivas que envergonham e desumanizam as pessoas, uma mudança de comportamento real e sustentável resulta da concessão de recursos e opções às pessoas para melhorar a sua saúde. Nos EUA, estamos perante a primeira geração sem fumo, com o tabagismo entre os jovens abaixo dos 2%”, explica Clark.
Ele estava em um cúpula que tratou dos cigarros eletrônicos e sem fumaça em Washington, a capital norte-americana, este mês. O encontro reuniu inimigos mortais do tabaco, especialistas em medicina, psicologia e comportamento, para discutir o tema.
Uma explicação é necessária aqui. Quando falamos em cigarro, a primeira imagem que vem à mente é a do fumo, do cheiro forte e da ligação com o câncer e outros problemas de saúde.
E com os cigarros tradicionais, essa é a verdade.
Fumar para parar de fumar, dizem especialistas
Mas há uma nova geração de cigarros que têm sido usados segundo o ditado “o menor dos males” – o que não significa que sejam saudáveis, mas sim menos prejudiciais. São vapes, produtos com tabaco aquecido e snus (tabaco em sachê para colocar na gengiva).
“O que temos visto desde que os cigarros eletrónicos foram amplamente adotados pelas pessoas que fumam é que levar as pessoas a alternativas mais seguras aos cigarros está a acelerar o declínio do tabagismo e a dar às pessoas espaço para abordar os fatores subjacentes que contribuem para o consumo. de substâncias”, continua Clark.
Na cúpula da qual Alex Clark participou, 25 especialistas chegaram a algumas conclusões. A primeira é que o cigarro, em qualquer caso, é prejudicial. A outra é que alternativas sem fumo podem ser a melhor forma de as pessoas deixarem de fumar.
“Há muita desinformação e é preciso sempre olhar os dados. As pessoas precisam saber que há redução de danos, mas que a nicotina é perigosa com o uso prolongado”, ensinou Nancy Rigotti, diretora do Centro de Pesquisa e Tratamento do Tabaco do Massachusetts General Hospital.
Conversando com o Metrópoles, ela acredita que é uma questão de passos. “Então, primeiro a gente faz a pessoa parar de fumar e, num segundo plano, ela também para o cigarro sem queimar”, ressalta.
Benjamin Toll, professor de ciências da saúde pública e psiquiatria na Universidade Médica da Carolina do Sul, não é totalmente a favor do uso de cigarros sem fumaça para fazer com que os fumantes parem de fumar. Mas ele sabe que é um caminho.
“Não podemos colocar estes cigarros eletrónicos na primeira linha de tratamento para deixar de fumar porque existem métodos efetivamente comprovados para o fazer. Na segunda linha pode ser considerada”, afirma o oncologista, que fez parte do primeiro ensaio nos EUA com a vareniclina, medicamento desenvolvido para fazer com que os pacientes parem de fumar.
Para Mitch Zeller, ex-diretor de produtos de tabaco da Food and Drugs Administration (uma espécie de Anvisa nos EUA), o que os lados da discussão precisam é sentar-se seriamente para discutir.
“E há confusão, principalmente nas redes sociais, que faz a discussão girar e girar”, acredita. “Meu objetivo não é uma visão ‘Polyanna’ e um grande momento onde todos se abraçam. É uma visão pragmática remover a hostilidade desta discussão. É uma questão de ser mais prático”, finaliza Zeller.
O que diz a indústria do tabaco
O discurso da indústria do tabaco mudou muito nas últimas décadas. Se antes os médicos apareciam nas propagandas para dizer que o cigarro fazia bem à saúde, hoje a abordagem deixa a hipocrisia de lado.
Andrea Constantini é Diretora de Relações Científicas para as Américas da Philip Morris International, uma das Big 4 do mercado de tabaco, ao lado da British American Tobacco (BAT), Japan Tobacco International (JTI) e Imperial Brands (China National Tobacco Corporation é a maior do mundo, mas é uma empresa estatal que abastece basicamente o mercado interno).
Ela conta sua própria história, sobre pai e mãe, vítimas de doenças relacionadas ao tabagismo. O pai dela morreu. A mãe está com a saúde debilitada. E, em sua fala, Andrea diz que se fumassem um produto menos agressivo, ela teria mais tempo com os dois.
Sua luta é tornar os produtos totalmente livres de fumo, o que, em tese, reduziria a nocividade. É a política de redução de danos.
“Uma redução de danos bem-sucedida exige a oferta de diferentes produtos de risco reduzido aos fumantes adultos para maximizar a aceitação do consumidor”, explica.
Na BAT, o discurso é o mesmo, definido como “uma jornada de transformação” e reconhecimento “de que o consumo de cigarro traz riscos à saúde”.
“Por isso, estamos nessa jornada com o objetivo de transformar nosso portfólio e incentivar os fumantes adultos – que não optam ou não conseguem interromper completamente o consumo de nicotina – a migrarem para produtos com menor risco em relação aos cigarros convencionais, seguindo regras rígidas. determinado pelos órgãos de saúde e controle dos países regulamentados”, diz a empresa em nota.
Portanto, os cigarros eletrónicos, o tabaco aquecido e as saquetas orais de nicotina desempenham um papel decisivo “na redução dos danos do consumo de nicotina”.
Reconhecer que existe risco no uso de qualquer tipo de cigarro já é um grande passo. E já não dizemos que o tabaco não faz mal. BAT cita pesquisas de instituições como King’s College London e Cochrane. “[…] Já demonstraram que os cigarros eletrónicos são comprovadamente uma opção de menor risco em comparação com os cigarros tradicionais, bem como uma ferramenta eficaz para parar o hábito de fumar”, aponta a empresa.
*O repórter viajou a convite da Philip Morris
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