Investing.com – Sem cortes nas taxas de juros americanas até o momento e com perspectiva de cortes menores neste ano, ajustes nas projeções do mercado tendem a penalizar a bolsa brasileira, mas alguns setores e classes de ações mais do que outros.
Essa é a avaliação de Rafael Orenes, gestor de portfólio da GCB Capital. Na avaliação do especialista do gestor, elas tendem a sofrer mais pressão, assim como as construtoras e incorporadoras voltadas para a renda média. Para os baixos rendimentos, as tendências continuam positivas, assim como para algumas empresas petrolíferas, como detalhou Orenes em entrevista ao Investing.com Brasil.
“Sem dúvida, as small caps brasileiras são o setor da bolsa mais impactado, porque são principalmente empresas ligadas à economia nacional, dependentes do ciclo de juros”, reforça o gestor.
Confira a entrevista completa abaixo:
Investing.com – Qual o impacto no atraso no início do corte dos juros nos EUA e na expectativa de uma Selic terminal de dois dígitos neste ano?
Rafael Orenes – Este adiamento dos cortes nas taxas de juros nos Estados Unidos para o mercado acionário brasileiro é bastante negativo. Sabemos que o Brasil é um país emergente que depende muito das condições econômicas do exterior e a taxa de juros americana é o preço mais importante do mundo. Assim, enquanto o investidor que está alocado em Treasuries estiver sendo bem remunerado, será um pouco mais difícil para ele se sentir atraído a investir em mercados emergentes. Isso não ajuda muito o mercado de ações brasileiro.
Para a Selic cair, nosso diferencial de juros não pode ser muito grande em relação aos Estados Unidos. Então, até que esse ciclo de corte de juros no exterior comece, será bastante complicado a Selic cair abaixo dos dois dígitos aqui no Brasil. Isso torna a amplitude e a velocidade de corte mais desafiadoras.
Então, o mercado acionário brasileiro, pelo menos agora e nos primeiros cinco meses, ficou praticamente marginalizado, ainda caindo levemente ao longo do ano, principalmente por conta desse cenário.
Inv.com – Além do fator juros, o que o GCB considera que são fatores positivos e negativos para a Bolsa de Valores brasileira neste ano?
minérios – Como drivers positivos, houve alguns relacionados aos resultados da empresa. Com esse último ciclo de elevação da Selic, diversas empresas fizeram o dever de casa, principalmente no que diz respeito à otimização de custos e despesas. Nos resultados do quarto trimestre do ano passado e do primeiro trimestre deste ano, os resultados ficaram ligeiramente acima das expectativas do mercado, o que consideramos um fator positivo. A continuidade deste ciclo de corte da Selic também seria outro fator positivo.
Mas sabemos que o mercado brasileiro é uma parcela muito pequena do mercado global. Então, não só o fluxo estrangeiro no Brasil ainda está negativo na Bolsa, estamos com menos 32 bilhões de saída de fluxo estrangeiro na Bolsa, mas ainda temos a bolsa e os multimercados sofrendo resgates de fundos. Acreditamos, portanto, que estamos bastante dependentes deste corte de juros e de um maior apetite ao risco por parte dos investidores estrangeiros para que esta saída de dinheiro da bolsa brasileira seja pelo menos estável e, quem sabe, ao longo do tempo. do segundo semestre, haverá um fluxo positivo, o que ajudaria muito o nosso mercado de ações.
Inv. com – As small caps são mais afetadas nesse cenário? Houve uma expectativa favorável no início do ano com a tendência que víamos para uma maior flexibilidade do que esperamos neste momento? Como você viu essa mudança de compreensão e como isso afeta esse tipo de ação?
minérios – Sem dúvida, as small caps brasileiras são o setor do mercado de ações mais impactado, porque são principalmente empresas ligadas à economia doméstica, dependentes do ciclo de juros não só no Brasil, mas também globalmente. Também na maioria das vezes, têm pouca exposição às matérias-primas, o que pode ser favorável.
Então, com esse adiamento do corte dos juros lá fora, e com um corte menor do que o esperado aqui no Brasil, as small caps acabam sofrendo mais. As pequenas empresas no Brasil têm acesso ao crédito um pouco mais difícil do que as grandes empresas. Um ambiente mais restritivo também acaba não sendo positivo para eles.
Inv.com – Por outro lado, também temos maiores expectativas de crescimento. Isso poderia suavizar de alguma forma essa perspectiva para as pequenas capitalizações?
minérios – De alguma forma, sim. Estamos vendo isso em algumas empresas na bolsa. Principalmente o que mencionei é que, no primeiro trimestre, algumas empresas já tiveram resultados melhores que o esperado. Parte disso também se deve ao fato de a economia brasileira estar crescendo um pouco acima das expectativas, o que ajuda tanto no crescimento das receitas quanto na diluição de custos e despesas. Assim, analisamos alguns sectores da economia nacional com um desempenho relativamente bom em relação a outros, mas estes são casos mais específicos.
Inv.com – Com esse cenário que vem se deteriorando ao longo do ano, quais setores você acha que terão tendências positivas para o segundo semestre, se quiser falar de ações, e quais teriam tendências negativas, da mesma forma ?
minérios – Avaliamos que o setor de construção civil relacionado à baixa renda, principalmente com exposição ao Minha Casa Minha Vida, continuará tendo ventos muito favoráveis devido às medidas do governo para ampliar o acesso ao programa. As empresas ligadas a este setor continuarão a ter um bom desempenho.
Gostamos também de outros casos nacionais menos ligados à economia nacional e, no geral, também gostamos do sector do petróleo e gás, vemos que se mantém neste patamar de pelo menos 80 dólares o barril e as petrolíferas tendem a beneficiar muito com isso. isto.
Assim, a Petrobras (BVMF 🙂 continuará gerando muito caixa, apesar das turbulências que teve no primeiro semestre, principalmente relacionadas ao pagamento de dividendos e mudanças de gestão. Acreditamos que ainda há espaço para distribuir muitos dividendos sem atrapalhar o plano de investimentos da empresa e também gostamos dos chamados óleos juniores, que seriam principalmente Prio (BVMF:) e 3R (BVMF:).
A Prio principalmente pela perspectiva de aumento de produção nos próximos trimestres, pois também inicia operações no campo Wahoo, terá um novo patamar de produção em 2025 e o mercado costuma antecipar esse tipo de movimento. Estamos muito positivos em relação à Prio e à 3R também devido ao processo de fusão com a Enauta (BVMF :), que terá muitas sinergias e potencial atrativo também.
E pelo lado negativo, ainda será um semestre desafiador para as empresas mais expostas ao nível das taxas de juros no Brasil. E esse escopo inclui principalmente construtoras de média e alta renda. Sabemos que existe uma correlação muito forte entre a taxa de juros e o desempenho desses ativos. Enquanto as taxas de juros, principalmente no exterior, não atingem um patamar um pouco inferior, esse tipo de empresa não costuma ter um desempenho muito bom. Além deles, as small caps, que são muito cíclicas e muito dependentes da queda dos juros.
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