Espera-se que o processo de descarbonização da aviação pressione os preços das passagens aéreas, gerando custos adicionais para os passageiros. A previsão é do diretor-geral da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), Willie Walsh. O executivo atribui isso ao maior valor do combustível de aviação sustentável (SAF) e às margens já apertadas das empresas do setor.
Walsh diz que não é realista considerar que as companhias aéreas conseguirão absorver todos os custos da transição energética, sem os repassar ao consumidor. “Aumentar o preço dos ingressos não é algo que queremos fazer, mas precisamos ser honestos: os preços deveriam, sim, subir. Não vejo como podemos fazer isso de outra forma”, afirma.
O diretor-geral da IATA defende que não existe uma solução simples ou mais barata disponível para o setor atingir a meta de zero emissões de carbono até 2050. Embora ainda não seja possível quantificar com precisão o valor de mercado do SAF, as projeções indicam que o combustível sustentável, principal aposta para descarbonizar a aviação, poderá custar entre duas a cinco vezes mais do que o utilizado atualmente. O baixo índice de produção é um dos fatores que ajudam a explicar essa diferença.
“Os custos não podem ser suportados integralmente pela indústria, tendo em conta a margem já apertada com que operamos face aos custos elevados”, afirma Walsh. Neste sentido, destaca que a IATA prevê uma margem de lucro líquido de 3,1% para 2024 e que o nível mais elevado alguma vez alcançado pelo sector foi de 5%. O executivo lembra ainda que, mesmo com preço inferior ao SAF, o combustível deverá representar 31% das despesas operacionais do setor neste ano.
Para o presidente da Emirates, Tim Clark, a aviação está no início de uma longa jornada rumo à descarbonização. “Pode ser que a indústria consiga absorver parte dos custos mais elevados decorrentes do SAF, mas não todos. Isso depende também do comportamento do combustível atual”, disse.
Problemas na cadeia de abastecimento, que atrasaram a substituição das aeronaves atuais por modelos mais novos e menos poluentes, é outro problema citado pelos executivos. “O atraso na renovação das frotas aumenta os custos e atrasa a descarbonização”, afirma Walsh, destacando que este problema afeta as companhias aéreas a nível global.
“A indústria busca crescer para atender a demanda e reduzir despesas, mas continuaremos enfrentando problemas na cadeia de abastecimento”, reforça Clark, presidente da Emirates, durante painel promovido na reunião anual da IATA, que acontece em Dubai ( Emirados Árabes Unidos) nos próximos dias.
*O repórter viajou a convite da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA)
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