No primeiro dia de visita à Itália, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que levará “um abraço do presidente Lula” ao Papa Francisco. O ministro se reunirá com o pontífice nesta quarta-feira (5), às 7h30, horário do Vaticano (2h30 em Brasília), para levantar apoio à tributação dos super-ricos.
“Vim trazer um abraço do presidente Lula e mantê-lo [o papa Francisco] ao lado dos problemas do Brasil”, disse Haddad em entrevista coletiva após reunião com o ministro da Fazenda da Espanha, Carlos Cuerpo. Os dois se encontraram por cerca de uma hora na embaixada do Brasil em Roma.
Segundo Haddad, o governo brasileiro pretende se colocar à disposição do papa para questões sociais tratadas pelo Vaticano. “[Esses temas] Dizem respeito ao sentimento dos brasileiros por um mundo mais fraterno, por um mundo de paz, por um mundo de liberdade. Será uma viagem muito proveitosa”, comentou o ministro brasileiro. Além de tributar os super-ricos, Haddad pretende conversar com o papa sobre a tragédia climática no Rio Grande do Sul e a dívida dos países mais pobres.
Sobre a tributação dos super-ricos, proposta pelo Brasil durante a presidência do G20 (grupo das 19 maiores economias do planeta, exceto a União Europeia e a União Africana), Haddad disse que a recomendação é um ponto de partida para uma sistema tributário global mais justo. “Este imposto sobre os superbilionários só faz sentido à escala global. Caso contrário, não será eficaz. E acho que é o início de uma jornada”, declarou o ministro.
“Mas acho que é um ótimo ponto de partida para França e Espanha já se declararem a favor de debater o tema, a fundo, com a troca de informações, com tudo o que é necessário para um passo tão ousado como este. Os outros países acabarão sendo chamados a manifestar-se”, acrescentou. Além dos dois países europeus, Bélgica, Colômbia e União Africana manifestaram apoio à proposta brasileira.
Dívida dos países pobres
Após a audiência com o papa, Haddad participará da conferência Facing the Debt Crisis in the Global South, coorganizada pela Universidade de Columbia e pela Pontifícia Academia de Ciências Sociais, ligada ao Vaticano. O ministro destacará o compromisso do Brasil em encontrar soluções para a crise da dívida pública enfrentada pelos países em desenvolvimento.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), dos 68 países de rendimento mais baixo, nove não conseguem pagar a sua dívida externa e 51 correm risco moderado ou elevado de entrar em incumprimento. Segundo as Nações Unidas, 19 países em desenvolvimento gastam mais com juros da dívida pública do que com educação e 45 mais do que com saúde. Segundo a Pontifícia Academia das Ciências Sociais, o problema agravou-se após a pandemia de covid-19.
Acordo Mercosul-União Europeia
Na reunião com o ministro da Fazenda espanhol, Haddad defendeu mais uma vez o acordo Mercosul-União Europeia. Segundo o ministro brasileiro, a celebração do acordo é importante não só pelos aspectos económicos, mas também engloba valores como a defesa da democracia. “Essa é uma aliança que pode incentivar muito não só os negócios, mas parcerias em todas as áreas”, comentou. “Temos economias complementares e muito a ganhar juntos”, acrescentou Haddad, dirigindo-se ao colega espanhol.
Concluído em 2019, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia depende da ratificação de todos os países envolvidos para entrar em vigor. As ratificações ficaram mais difíceis após protestos desde o início do ano de agricultores europeus, que alegam ameaças à produção e concorrência desleal causada por alimentos do Mercosul, principalmente do Brasil. Durante visita ao Brasil em março, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que a França é totalmente contra a proposta porque foi negociada há mais de 20 anos e defendeu a reconstrução do acordo.
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