Na semana em que completa dois anos o assassinato do indígena Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, profissionais e amigos do ex-correspondente internacional de veículos de imprensa influentes, como o britânico O guardiãoabriu um instituto sem fins lucrativos para homenageá-lo.
Mais do que o nome do jornalista, o Instituto Dom Phillips busca perpetuar sua paixão pela Amazônia, bioma que o britânico visitou a trabalho, pela primeira vez, em 2015. Segundo Alessandra Sampaio, viúva de Dom e CEO da entidade, o iniciativa busca “ecoar as vozes da Amazônia” por meio de projetos que divulguem o conhecimento tradicional da população amazônica.
“É uma organização que visa trabalhar com projetos educacionais, com o objetivo de fazer ecoar as vozes da Amazônia e o conhecimento das pessoas e pessoas que cuidam do bioma, trazendo sua narrativa”, comentou Alessandra em entrevista à jornalista Cíntia Vargas, do TV Brasil. “Dom entendeu que existe um grande problema social e econômico na Amazônia, com muitas pessoas realizando atividades criminosas por falta de opções, e que há vários assuntos sobre os quais temos que conversar, não apenas sustentabilidade e proteção. [à flora e à fauna]mas também às pessoas que estão muito desassistidas”, afirmou.
No texto de apresentação da entidade, os responsáveis pela iniciativa sustentam que “honrar o legado de Dom significa reconhecer a dor e ir além dela, entendendo que sua relação com a Amazônia não se limita ao seu assassinato. Pelo contrário, mergulhou na exuberância da floresta e ouviu o seu povo para mostrar ao mundo toda a diversidade humana, ambiental e cultural da região.”
Quando foi morto a tiros, o jornalista se dirigia ao entorno da Terra Indígena Vale do Javari, onde pretendia entrevistar lideranças indígenas e ribeirinhas para escrever um livro-reportagem que teria como título Como Salvar a Amazônia. A terra indígena é a segunda maior área da União destinada ao uso exclusivo indígena e abriga a maior concentração de povos isolados do mundo.
Dom viajava na companhia de Bruno Pereira, funcionário de carreira da Fundação Nacional do Índio (Funai), onde se formou em fevereiro de 2020, por discordar das novas diretrizes relativas à implementação da política indigenista nacional durante Jair. O governo de Bolsonaro. Na época, Pereira trabalhava como consultor técnico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).
“Sempre que voltava das viagens pela Amazônia, o Dom voltava muito mobilizado. Pelas suas experiências, pelos contactos que teve com as pessoas e com a floresta. Ele disse: “Ale, se as pessoas conhecessem e entendessem a Amazônia, se conhecessem [de] todas as belezas, todo o potencial [da região]se engajaria na proteção da floresta”, acrescentou Alessandra.
“Como instituto, estamos enraizados no mesmo propósito: fazer eco às vozes da Amazônia e aos saberes de seu povo e cuidadores, promovendo movimentos de educação para a preservação da vida”, acrescenta o texto em que é apresentada a nova instituição. “Escolhemos a educação como ferramenta para promover o conhecimento descolonizado sobre e para a Amazônia. Queremos desenvolver projetos educativos que vão do território para o território e também para o mundo, promovendo espaços de construção coletiva e articulação em rede dos diversos saberes e cuidadores da floresta.”
Movidos pela violência que sabem “não foi a primeira, nem será a última”, os responsáveis pelo Instituto Dom Phillips enfatizam a urgência de ações concretas para preservar a vida, não apenas no sentido mais amplo de proteção do bioma, mas também proteção de seus defensores.
“A questão das pessoas ameaçadas, da segurança, da violência e da destruição na região nos causa muita angústia”, destacou Alessandra. “As pessoas continuam lá, na linha de frente, defendendo o Vale do Javari, uma área única, com 16 aldeias [indígenas] isolado e com uma integridade territorial muito grande. O trabalho de fiscalização que essas pessoas ameaçadas fazem é muito importante e devemos exigir das autoridades que elas estejam seguras”, acrescentou a viúva de Dom, ao falar sobre a importância do trabalho das entidades da sociedade civil organizada que exigem justiça para o jornalista e o indigenista .
Em 23 de julho de 2022, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou Amarildo da Costa Oliveira, (conhecido como “Pelado”), Oseney da Costa de Oliveira (“Dos Santos”) e Jefferson da Silva Lima (“Pelado da Dinha”). por homicídio duplo qualificado e ocultação dos corpos de Bruno e Dom.
Ruben Dário da Silva Villar (“Colômbia”) e Jânio Freitas de Souza também foram presos e indiciados pela Polícia Federal (PF).
O processo judicial está em andamento, mas a Subseção Judiciária Federal de Tabatinga, no Amazonas, ainda não marcou data para o julgamento dos três principais réus. Seguindo a orientação de seus advogados, Alessandra evita comentar o andamento processual, limitando-se a dizer que está avançando.
“Este foi um caso trágico, que tocou muita gente. Até hoje tem gente que fala comigo sobre isso em um tom muito emocionado. Os nomes de Dom e Bruno correram o mundo, e acho que esse seria um caso exemplar para a Justiça brasileira mostrar às redes criminosas que a Justiça é feita no país. E o que eu sei, através da Univaja, é que, depois de dois anos, eles precisam de mais apoio, de mais proteção.”, finalizou Alessandra.
A entrevista com Alessandra Sampaio, viúva de Dom, vai ao ar nesta quarta (5), no programa Repórter Brasilque começa às 19h.
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