Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – A cotação à vista fechou sexta-feira com forte alta em relação ao real, ultrapassando 5,30 reais, com os preços reagindo ao avanço firme da moeda norte-americana no exterior, acompanhando dados do mercado de trabalho norte-americano. Os EUA sugerem que o Federal Reserve fará apenas um corte na taxa de juros em 2024, em meio ao desconforto dos investidores com a área fiscal no Brasil.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a 5,3247 reais na venda, alta de 1,44%. Este é o maior valor de fechamento desde 5 de janeiro de 2023, quando a moeda estava cotada a 5,3527 reais. Na semana, a moeda acumulou alta de 1,40%.
Às 17h59, na B3 (BVMF:) o contrato de primeiro vencimento subia 1,53%, a 5,3505 reais na venda.
Divulgação mais esperada da semana, o relatório da folha de pagamento indicou que 272 mil empregos foram abertos fora do setor agrícola em maio, bem acima dos 185 mil empregos projetados por economistas consultados pela Reuters. As estimativas dos economistas variaram de 120.000 a 258.000.
A leitura inicial do mercado foi que, com a economia a aquecer conforme indicado pela folha de pagamento, a Reserva Federal não terá espaço para cortar as taxas de juro duas vezes este ano, mas apenas uma vez.
Em reação, o rendimento do Tesouro de dez anos disparou e o dólar ganhou força em relação a outras moedas, incluindo o real. Por trás do movimento estava a leitura de que, com taxas de juros mais altas nos EUA, o diferencial de taxas do Brasil se tornará menor, limitando a capacidade do país de atrair capital.
Às 9h29 – um minuto antes da divulgação da folha de pagamento – o dólar à vista atingiu a cotação mínima de 5,2411 reais (-0,16%). Com a divulgação dos dados, o dólar renovou os picos do dia, e o movimento de alta continuou durante a tarde, em meio ao desconforto dos investidores com o cenário fiscal no Brasil.
Um operador ouvido pela Reuters destacou perto do final da sessão que circularam pelas mesas comentários de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia sinalizado a possibilidade de mudanças no atual quadro fiscal. Os comentários teriam sido feitos durante reunião de Haddad com representantes do Banco Santander (BVMF), em São Paulo.
Em meio a rumores e desconforto em relação à questão fiscal, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) dispararam no final da sessão, com o acionamento de ordens de stop loss. O dólar à vista atingiu a máxima do dia, a 5,3295 reais (+1,53%), às 16h14.
Enquanto eram massacrados bens brasileiros, Haddad concedeu entrevista a jornalistas em São Paulo, para defender a medida provisória enviada ao Congresso que restringe a compensação de créditos tributários. Segundo ele, as resistências à MP se dissiparão à medida que houver maior entendimento sobre a intenção do governo de reduzir os gastos tributários.
Haddad afirmou ainda que o governo poderá eventualmente fazer um contingenciamento de despesas orçamentárias do ano para garantir o cumprimento das regras fiscais.
Numa segunda conversa com jornalistas, também em São Paulo, Haddad descartou a possibilidade de mudança no quadro fiscal. Segundo ele, um participante da reunião com o Santander vazou informações falsas, que classificou como “muito graves”.
Com o mercado à vista já fechado, coube ao dólar futuro para julho reagir à negativa de Haddad: a moeda perdeu força momentaneamente, mas acelerou novamente suas altas antes de fechar.
No exterior, às 17h57, a moeda – que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis moedas – subia 0,79%, a 104,930.
Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional oferecidos para rolagem dos vencimentos de agosto.
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