A economista Maria da Conceição Tavares, um dos principais nomes do pensamento desenvolvimentista, que defende maior intervenção do Estado na economia para estimular o crescimento, morreu neste sábado, 8, aos 94 anos, em Nova Friburgo (RJ). Segundo amigos e familiares, ela estava em casa e morreu durante o sono, nas primeiras horas da manhã. A causa da morte não foi divulgada.
Nascida em Portugal, em 1930, e radicada no Brasil desde 1954 – naturalizou-se brasileira em 1957 -, Maria da Conceição foi professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). . Foi deputada federal pelo PT entre 1995 e 1999 e participante ativa no debate público sobre política econômica, especialmente durante o período de redemocratização na década de 1980.
“Conceição ensinou a toda uma geração que economia não era uma questão de mercado. Comemoramos o prazer de ter vivido na mesma época”, disse Glória Moraes, economista, amiga e ex-aluna de Maria Conceição Tavares, ao anunciar a sua morte.
Além de professora e deputada, Maria da Conceição trabalhou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (atual BNDES) e na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
Seu trabalho costuma ser dividido pelos pesquisadores em três fases. Na primeira, quando esteve vinculada à CEPAL, dedicou-se ao desenvolvimento econômico do que se chamou de “periferia” global, especialmente o caso brasileiro. Num segundo momento, na Unicamp, analisou e discutiu criticamente textos de autores como Karl Marx, John Maynard Keynes e Michal Kalecki. Posteriormente, na UFRJ, concentrou seus estudos na economia política internacional, analisando a organização econômica global da década de 1980 e a hegemonia americana.
Foi uma crítica feroz ao liberalismo económico e ao neoliberalismo. Em artigo publicado no site da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, em 2021, ele escreveu: “Com o neoliberalismo não vamos a lugar nenhum. Acima de tudo porque, repito: historicamente, o Brasil nunca deu saltos se não fosse com impulsos do próprio Estado.”
REPERCUSSÃO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou foto abraçando Maria da Conceição. “Tive o prazer e a honra de conviver e conversar muito com meu amigo ao longo dos anos, debatendo o Brasil e nossos desafios sociais e econômicos no Instituto Cidadania, em conversas no Rio de Janeiro ou em viagens pelo Brasil”, escreveu ela. “Neste momento de despedida, as minhas condolências vão para a família, especialmente para os filhos, para os muitos amigos, alunos e admiradores de Maria da Conceição Tavares”.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, divulgou nota de condolências com o título Ao mestre com carinho. Ele lembrou que Conceição ingressou no banco como servidora pública em 1958. Mercadante a ajudou na construção da tese “Ciclo e Crise: o recente movimento de industrialização brasileira”, em 1977, e na eleição para deputado federal em 1994”. Com intelectualidade densa e coragem profunda, Conceição teve uma vida de compromisso com a democracia, o desenvolvimento, a distribuição de renda, a justiça social e o enfrentamento ao neoliberalismo.”
O presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, classificou o economista como “o mestre do desenvolvimento com justiça social que nunca desistiu do Brasil”. “A professora Maria da Conceição Tavares deixa uma trajetória exemplar como educadora engajada no que de melhor o pensamento crítico gerou no Brasil”, escreveu Pochmann em uma rede social.
A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que Maria da Conceição Tavares foi uma mulher corajosa, que colocou sua inteligência e conhecimento a serviço da transformação social do país. “É uma grande perda, principalmente num momento em que o Brasil precisa de vozes em defesa da democracia e do desenvolvimento econômico”.
A ex-presidente Dilma Rousseff classificou o professor como um dos intelectuais mais importantes e influentes da atualidade. “Minha amiga e professora foi uma mulher brilhante e profundamente comprometida com a soberania nacional, tendo desempenhado um papel decisivo na construção de um Brasil menos desigual. Foi uma portuguesa que veio para o país ainda criança e se tornou brasileira de coração. e firme compromisso com o nosso povo.” A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.
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