A calamidade climática que deixou grande parte do Rio Grande do Sul inundada durante semanas em maio se refletiu nos preços dos produtos e serviços comercializados no estado. No mês passado, a inflação na região metropolitana de Porto Alegre atingiu 0,87%, quase o dobro do índice nacional, que foi de 0,46%.
A inflação na capital gaúcha foi a mais alta registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em maio. Os dados são referentes ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta terça-feira (11) pelo IBGE.
Para calcular a inflação oficial do país, o IBGE realiza pesquisas de preços nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, além do Distrito Federal, e os municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.
O peso da região metropolitana de Porto Alegre é de 8,61%, sendo a quarta maior, atrás de Belo Horizonte (9,69), Rio de Janeiro (9,43) e São Paulo, que responde por praticamente um terço (32,28%).
Os itens que mais pesaram para os consumidores de Porto Alegre foram batata-inglesa (23,94%), gás de botijão (7,39%) e gasolina (1,8%). Das três, a única que cresceu em patamar próximo à média nacional foi a batata, que subiu 20,61% no país.
O gás de botijão (1,04%) e a gasolina (0,45%) tiveram avanços mais modestos no IPCA nacional.
O grupo alimentação e bebidas subiu 0,62% no país e 2,63% em Porto Alegre. Enquanto as hortaliças subiram 0,37% no país, em Porto Alegre houve aumento de 14,88%.
No caso das frutas, que ficaram mais baratas na média nacional (-2,73%), os porto-alegrenses tiveram que pagar 5,52% a mais em relação a abril.
O pescado também ficou mais barato no país (-0,28%) e mais caro em Porto Alegre (3,44%). Outra grande diferença foi no preço das aves e dos ovos, que subiu 0,35% no país e 4% na capital gaúcha.
Leite e derivados, que pressionaram a inflação nacional com aumento de preços de 1,97%, ficaram ainda mais caros na região afetada pelas chuvas (4,38%).
Apesar do IPCA de Porto Alegre se aproximar do dobro da inflação nacional, três dos nove grupos de preços pesquisados sofreram deflação na capital gaúcha, ou seja, ficaram mais baratos. São utensílios domésticos (-1,54%), saúde e cuidados pessoais (-0,02) e comunicação (-0,41%).
Além do IPCA, que mede a inflação para famílias com renda entre um e 40 salários mínimos, o IBGE também divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que tem metodologia de coleta semelhante ao IPCA, mas com pesos ajustados para refletir a padrão de consumo das famílias com renda entre um e cinco salários mínimos.
Segundo esse índice, que dá maior peso aos alimentos, a inflação na capital gaúcha mais que dobrou em relação à média nacional, chegando a 0,95%. No Brasil, o INPC foi de 0,46% em maio.
Coleta no Sul
A situação de calamidade dificultou a cobrança presencial de preços. Em situações comuns, cerca de 20% dos dados são recolhidos pessoalmente. Em maio, esse patamar chegou a 65% na região metropolitana de Porto Alegre.
Alguns produtos não puderam ter seus preços coletados presencialmente ou remotamente. Para casos como esses, o IBGE imputa dados, técnica estatística já prevista na metodologia.
Segundo o gerente da pesquisa, André Almeida, a imputação não distorce os resultados. “Os critérios estão definidos na metodologia e seguem práticas recomendadas internacionalmente. Isso nos faz sentir seguros”, diz ele.
“Um dos critérios de imputação mais adotados é ver qual é o preço médio observado em localidades semelhantes e imputar esse preço”, descreve. André Almeida dá o exemplo do arroz: caso o produto não seja encontrado no mercado, pode-se utilizar o preço médio encontrado em estabelecimentos similares.
Entre os itens que tiveram dados imputados, o pesquisador cita produtos vendidos em feiras livres, feiras e drogarias de menor porte e serviços como conserto de geladeiras, bicicletas e estofados, entre outros.
Próximos meses
O gerente da pesquisa destaca que ainda não é possível prever como será a tendência da inflação no Rio Grande do Sul e os efeitos no Brasil, mas aponta fatores que podem influenciar o comportamento dos preços.
“Toda a situação de calamidade vivida no estado impacta as cadeias produtivas, a infraestrutura logística, tanto de alimentos quanto de bens industriais. A fertilidade do solo deve ser afetada, há dificuldade de plantio, transporte de alimentos e comercialização”, afirma André Almeida, lembrando que o Rio O Grande do Sul é o principal produtor de arroz do país, com grande participação na produção de grãos, como soja, milho, trigo, frutas, verduras e carnes.
“Precisamos esperar e ver como isso vai acontecer nos próximos meses”, acrescenta.
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