Um projeto de lei (PL) que tramita na Câmara dos Deputados prevê que as praias de cada município litorâneo poderão ter até 10% da área com acesso restrito, dando prioridade aos usuários de empreendimentos turísticos, como hotéis de luxo.
O PL 4.444/2021, de autoria do deputado federal Isnaldo Bulhões (MDB-AL), tramita com urgência na Câmara e pode ser votado a qualquer momento no plenário, dependendo de acordo entre os líderes. Porém, não há previsão de votação deste texto por enquanto.
O projeto prevê expressamente a restrição do acesso às praias incentivando a criação de uma Zona Especial de Uso Turístico (Zetur).
“Delimitação de no máximo 10% da faixa de areia natural de cada município, o que poderá restringir o acesso a pessoas não autorizadas, limitando a utilização a empreendimentos turísticos como hotéis, parques privados, clubes, marinas ou outros que sejam autorizados pelo Ministério da Turismo, é vedada a destinação dessas áreas a imóveis de uso unifamiliar”, diz o texto do projeto.
Apresentado em dezembro de 2021, o texto cria “o Programa Nacional de Gestão Eficiente do Patrimônio Imobiliário Federal”. A proposta altera a Lei 9.936, de 1998, que regulamenta o uso dos terrenos marinhos, os mesmos abrangidos pela PEC das Praias.
No dia 16 de fevereiro de 2022, o plenário da Câmara aprovou a urgência do projeto com 321 votos a favor e apenas 91 contra e o apoio do governo de Jair Bolsonaro. Apenas os partidos de oposição da época, PT, PSB, PSOL, PCdoB e Rede, se opuseram ao projeto. Seis dias depois, o deputado José Priante (MDB-PA) foi nomeado relator.
Em entrevista com Rádio Nacional, a diretora do Departamento de Gestão Oceânica e Costeira do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Ana Paula Prates, afirmou que o PL 4.444 forma um pacote junto com a proposta de emenda à Constituição conhecida como PEC das Praias. Essa PEC transfere a propriedade de terras no litoral brasileiro, atualmente sob controle da União, para estados, municípios e proprietários privados.
“O PL transforma as praias em área de interesse turístico e os municípios poderiam privatizar até 10% dessas áreas. Então, tudo isso está acontecendo junto. É um pacote”, alertou ela.
A Agência Brasil Ele procurou o deputado Isnaldo Bulhões para comentar o PL 4.444, mas não obteve resposta até a conclusão do relatório. O parlamentar lidera o segundo maior bloco da Câmara, com 146 deputados e que reúne quatro partidos: MDB, Republicanos, PSD e Podemos.
PEC das Praias
Nas últimas semanas, a chamada PEC das Praias (3/2022) ganhou destaque no Brasil ao ocupar amplo espaço na imprensa, nas redes sociais e nas ruas. Os críticos afirmam que a PEC que tramita no Senado pode levar à privatização das praias do país.
Embora a PEC informada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) não preveja expressamente a privatização das praias, os críticos apontam que, ao transferir terras marítimas, atualmente sob controle da União, para proprietários privados, estados e municípios, haverá o possibilidade de dificultar o acesso às faixas de areia.
As terras marinhas são todas as áreas a até 33 metros da maré mais alta. Além da questão do acesso às praias, os críticos apontam que a transferência destas áreas da União para outras entidades ou proprietários privados apresenta riscos ambientais devido ao possível uso indevido destes espaços banhados pelas correntes marítimas.
Após a repercussão negativa da PEC das Praias, o relator Flávio Bolsonaro anunciou nesta segunda-feira (10) uma mudança na proposta para incluir um artigo dizendo que as praias são bens públicos de uso comum, sendo garantido o livre acesso a elas e ao mar. Porém, a mudança anunciada pelo senador ainda não foi registrada no sistema do Senado.
O senador fluminense sustenta que o objetivo da proposta é dar mais liberdade de atuação aos municípios para o uso dessas terras, bem como acabar com a cobrança de uma taxa que quem possui as terras marinhas precisa repassar à União .
Áreas especiais
A criação de zonas especiais para turismo foi aprovada na semana passada no Senado, em texto também relatado pelo senador Flávio Bolsonaro. O Projeto de Lei 1.829/2019 atualiza a Lei Geral do Turismo (Lei 11.771 de 2008) e incentiva a criação de Áreas Especiais de Interesse Turístico (Aeits), mas não prevê limitação de acesso às praias, como o PL 4.444 de 2021.
No projeto aprovado pelo Senado, os Aeits são definidos como “territórios que serão considerados prioritários para facilitar a atração de investimentos e criar parcerias com o setor privado”. Agora, a medida aguarda deliberação da Câmara.
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