SÃO PAULO (Reuters) – Neri Geller, que deixou a Secretaria de Política Agrária do Ministério da Agricultura em meio à crise gerada pelo leilão de arroz importado, disse nesta quarta-feira que não aceitará ser “bode expiatório” do evento que foi cancelado em meio a notícias sobre conflito de interesses.
Em entrevista à BandNews TV, ele negou ter renunciado ao cargo, contrariando a declaração do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, na véspera.
Ao negar qualquer suspeita de irregularidade no processo de leilão, Geller afirmou que não permitirá que seus 30 anos de experiência no setor agropecuário sejam jogados no “lixo”, como disse líder de classe na Aprosoja, deputado federal, secretário de Política Agrícola duas vezes e Ministro da Agricultura no governo Dilma Rousseff.
O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, e o ministro da Agricultura citaram nesta terça-feira, em entrevista a jornalistas, questionamentos sobre a capacidade técnica e financeira das empresas vencedoras do leilão, ao justificar o cancelamento da operação que poderia gerar 1,3 bilhão de reais se implementado.
Ao comentar o cancelamento do leilão, Fávaro também deu explicações sobre um possível conflito de interesses entre Geller e o representante das empresas que licitaram no certame, o ex-assessor Rodrigo França, sócio de seu filho em uma empresa.
Geller disse que explicou ao ministro que França, dono da corretora que participou do leilão, foi seu assessor há quatro anos, e que não tem qualquer relacionamento com a corretora. Ele também negou o envolvimento do filho no processo.
“Meu filho, que estava sendo informado que tinha participado do leilão, que abriu uma corretora em agosto do ano passado, falei com meu filho e ele me disse categoricamente que essa corretora não foi acionada do ponto de vista operacional, não realizou nenhuma operação, não participou de nenhum leilão, nem público nem privado”, afirmou.
Geller, que se disse um dos primeiros apoiadores da campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva, sendo um importante coordenador do setor do agronegócio, também afirmou que o presidente se equivocou em relação ao leilão do arroz, embora reconhecesse que o interesse do governo em garantir o arroz barato alimentos para a população mais pobre.
“A demissão veio do ministério, veio do governo, não fui eu quem pediu demissão… Não sei se foi decisão do Lula, o que posso dizer é que tenho muito carinho e respeito ( para ele), acho que o presidente se equivocou nessa questão, até porque o preço do arroz é globalizado, as importações afetam num primeiro momento, mas num segundo, não afeta”, afirmou.
Segundo Geller, faltou “organização” e “orientação” para que o leilão desse certo.
“As posições técnicas não foram seguidas, foram muito apressadas, para que o arroz chegasse às periferias dos grandes centros”, disse o ex-secretário, lembrando que o Rio Grande do Sul já havia colhido cerca de 80% das áreas arrozeiras quando as enchentes ocorreu e que o Centro-Oeste ampliou sua produção.
(Por Roberto Samora)
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