O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quinta-feira (13), que os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, “estão aproveitando a guerra” iniciada em fevereiro de 2022 com a invasão dos russos ao território ucraniano. Lula reiterou a posição de neutralidade do Brasil e defendeu mais uma vez que os líderes encontrem uma solução negociada para a paz.
“Não defendo Putin, o Brasil foi o primeiro país a criticar a Rússia pela invasão do país. O que eu não faço é tomar partido, meu lado é a paz […]. O Brasil tem uma posição definida, estaremos dispostos a participar de qualquer reunião que discuta paz se houver duas partes conflitantes à mesa, se houver Rússia e Ucrânia, porque senão não se discute paz”, disse, em Genebra, Suíça, depois de participar na conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Antes do evento, Lula se reuniu com a presidente da Suíça, Viola Amherd, que convidou o líder brasileiro para participar de uma cúpula de paz entre Rússia e Ucrânia, que será realizada entre os dias 15 e 16 de junho, no país europeu. Lula recusou o convite, reafirmando que o Brasil tem interesse em facilitar as discussões caso ambas as partes do conflito cheguem à mesa.
“Eu havia enviado uma carta ao presidente [da Suíça] que o Brasil não participará de uma cúpula em que só tenha um lado. A guerra é travada por duas nações, ou seja, se você quer ir contra a paz, tem que colocar as duas na mesa de negociações. Mas [se] você só coloca um lado, você não quer a paz”, disse, lembrando da conversa com Putin, na última segunda-feira (10).
“Ainda esta semana Putin me ligou, mostrei a ele a necessidade de encontrarmos uma solução, sentarmos à mesa de negociações e pararmos de matar, para que as pessoas possam começar a trabalhar e viver suas vidas”, disse Lula.
“Acho que tem que haver um acordo, agora se Zelensky diz que não tem conversações com Putin e Putin diz que não tem conversações com Zelensky, ou seja, é porque estão a gostar da guerra, porque senão teriam já sentei para conversar e tentar encontrar uma solução pacífica. Qualquer solução pacífica mata menos gente, destrói menos e é mais benéfica para o povo da Ucrânia e da Rússia”, acrescentou o brasileiro.
Isenção de folha de pagamento
Lula também comentou a decisão do Senado de devolver ao governo federal a medida provisória (MP) que restringe a remuneração do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).
A MP foi proposta pela equipe econômica para compensar a perda de arrecadação com o acordo que manteve neste ano a desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia e para pequenos municípios. A ideia era restringir a utilização dos créditos tributários do PIS/Cofins para reduzir os demais tributos do contribuinte e acabar com o reembolso em dinheiro do crédito presumido.
Para o presidente, não há pressão contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já que a responsabilidade pela proposta de compensação é, desde o início, do Congresso Nacional.
“Não sei qual é a pressão contra o Haddad. Todos os Ministros das Finanças, desde que me lembro, tornaram-se o centro do debate quando as coisas funcionam e quando as coisas não funcionam. Haddad tentou ajudar os empresários construindo uma alternativa à isenção feita para esses 17 grupos; que não deveria ter sido o Haddad quem assumiu, mas o Haddad assumiu, fez proposta e os mesmos empresários não quiseram”, disse Lula.
“Então agora você tem uma decisão da Suprema Corte que vai acontecer. Se dentro de 45 dias não houver acordo sobre compensação, o que acontecerá? A isenção vai acabar, que era o que eu queria, por isso vetei na época. Então, agora a bola não está mais no campo de Haddad, a bola está nas mãos do Senado e nas mãos dos empresários: encontrar uma solução. O Haddad tentou, não aceitaram, agora encontrem uma solução”, acrescentou o presidente.
Por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), governo e Congresso têm prazo para encontrar uma fonte de receita para compensar a prorrogação da isenção.
Criada em 2011 para estimular a geração de empregos, a desoneração da folha de pagamento para empresas foi prorrogada diversas vezes. No final do ano passado, os parlamentares aprovaram o projeto de desoneração fiscal que prorroga, até 2027, a troca das contribuições previdenciárias – correspondentes a 20% da folha de pagamento – por uma alíquota entre 1% e 4,5% sobre o faturamento bruto das empresas em 17 setores da economia.
O projeto aprovado pelos parlamentares também reduziu de 20% para 8% a alíquota de contribuições ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) dos municípios com até 156 mil habitantes. A continuidade da política de isenção fiscal custará ao governo R$ 26,3 bilhões em 2024, segundo dados do Tesouro, sendo R$ 15,8 bilhões para empresas e R$ 10,5 bilhões para municípios.
O presidente Lula vetou o projeto de isenção. O Congresso derrubou o veto em dezembro do ano passado, mantendo o benefício para as empresas. O governo então editou uma medida provisória revogando a lei aprovada. Devido à falta de acordo no Congresso para aprovação, o governo concordou em transferir a discussão para outros textos.
Após negociações, no mês passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, anunciaram um acordo para superar o impasse. O benefício será mantido este ano, sendo reduzido gradativamente até 2028, quando os 17 setores da economia voltarão a pagar a alíquota de 20% sobre a folha de pagamento, como os demais segmentos. O acordo permitiu a prorrogação do benefício em troca de medidas para aumentar a arrecadação e compensar a renúncia fiscal.
Juscelino Filho
Lula voltou a falar sobre o indiciamento, pela Polícia Federal, do ministro das Comunicações, Juscelino Filho. Ele é suspeito de desvio de recursos públicos para pavimentação de estradas que dão acesso às propriedades de sua família na cidade de Vitorino Freire, no Maranhão.
Anteriormente, o presidente afirmou que conversaria hoje com o ministro sobre a permanência ou não no governo, mas agora, disse que a conversa ocorrerá após sua viagem à Europa.
“Não tem pressa, quando eu voltar, depois do G7, vou sentar e saber o que realmente aconteceu, numa conversa franca com ele. Porque eu falo para todo mundo, é só saber a verdade, se você errou, reconheça que errou, se não errou, lute pela sua inocência”, disse Lula.
Depois de participar da conferência da OIT, ainda hoje, Lula segue para a Itália onde participa da Cúpula do G7, encontro de líderes de sete das maiores economias do mundo. O evento acontece de 13 a 15 de junho em Borgo Egnazia, na região de Puglia, sul do país. Além das reuniões de trabalho ampliadas, a agenda do presidente inclui reuniões bilaterais com autoridades.
Trabalho decente
Ainda em Genebra, o presidente também teve uma reunião bilateral com o diretor-geral da OIT, Gilbert Houngbo. Segundo nota da Presidência da República, Lula falou sobre preocupações com as relações de trabalho, citando a precariedade das novas formas de emprego, e ressaltou que a superação das desigualdades é um tema central, pois as diversas formas de desigualdades, de gênero, sociais, raciais , se refletem no mercado de trabalho.
“Houngbo concordou com os pontos apresentados pelo presidente Lula. Falou também sobre o envelhecimento da força de trabalho em diversas regiões, os consequentes défices na formação profissional e o aumento das despesas com a segurança social. Lula citou preocupações sobre como os governos e os sistemas previdenciários deveriam lidar com o número crescente de trabalhadores que preferem trabalhar por conta própria”, diz a nota.
Antes de embarcar para a Itália, o presidente participa da cerimônia de lançamento do selo institucional dos Correios em homenagem aos 35 anos da obra O Alquimista, do escritor brasileiro Paulo Coelho. Coelho mora em Genebra.
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